Maior greve em 36 anos dos palestinos de Israel e dos territórios ocupados

Os cidadãos palestinos de Israel assinalaram nesta segunda-feira o aniversário dos acontecimentos de Outubro de 2000, nos quais 13 cidadãos árabes israelitas foram mortos pelas forças policiais do regime sionista.
O Alto Comité de Acompanhamento para os Cidadãos Árabes [Palestinos] de Israel, organismo que inclui representantes de todos os partidos e movimentos políticos dos palestinos cidadãos de Israel, apelou a uma greve geral em todas as comunidades, incluindo o sector de educação. Um comunicado conjunto do Alto Comité e do Conselho dos Presidentes de Câmara Árabes especificou que este ano a greve também seria um protesto contra a «lei do Estado-nação».
Esta lei de carácter constitucional, aprovada a 19 de Julho, confirma o carácter confessional e segregacionista do Estado de Israel e institucionaliza a discriminação de que sofrem os cidadãos não judeus de Israel, nomeadamente os palestinos, que constituem 20% da população e são os descendentes dos palestinos que permaneceram nas suas terras após a criação do Estado de Israel. A lei prescreve ainda que a língua do Estado é o hebraico, relegando o árabe para uma posição secundária.
Os partidos e movimentos palestinos da Cisjordânia ocupada e da Faixa de Gaza cercada responderam ao apelo do Alto Comité. Nos territórios palestinos ocupados , escolas, universidades, escritórios governamentais e lojas palestinas fecharam em solidariedade com os seus irmãos palestinos de Israel.
Em Israel, a comemoração dos acontecimentos de 2000 começou na manhã de segunda-feira com a deposição de coroas de flores nas sepulturas dos mortos. A manifestação principal ocorreu à tarde na cidade árabe-palestina de Jatt.
O presidente do Alto Comité, o ex-deputado Mohammed Barakeh, afirmou que a greve de segunda-feira foi abrangente, já que ocorreu em Israel e nos territórios ocupados da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, tendo sido a maior em 36 anos.
Intervieram também, entre outros, os deputados da Lista Conjunta (coligação de partidos palestinos e da esquerda não sionista em Israel) Ayman Odeh e Yousef Jabareen. Este declarou que a greve foi contra a discriminação e o racismo e que os cidadãos árabes-palestinos de Israel não estão dispostos a ser cidadãos de segunda classe: «Somos nativos deste país e vamos lutar por plena igualdade cívica e cidadania igual para todos.»
Uma das causas directas dos tumultos de 2000 em Israel foi a provocatória visita de Ariel Sharon, então chefe da oposição, ao complexo de Al Aqsa em 28 de Setembro desse ano. Irromperam confrontos em Jerusalém, provocando mortos tanto de cidadãos palestinos como de polícias, e realizaram-se também manifestações em cidades árabes-palestinas de Israel. O Alto Comité de Acompanhamento decidiu anunciar uma greve geral na comunidade árabe-israelense em 30 de Setembro de 2000.
Ocorreram depois protestos entre 1 e 8 de Outubro de 2000 em cidades e aldeias árabes-palestinas de Israel, com confrontos violentos entre manifestantes e polícias. Foram mortos 12 cidadãos palestinos de Israel e um palestino dos territórios ocupados, vítimas de balas reais e de balas de borracha.
A visita de Sharon a Al Aqsa, num quadro de falhanço já então aparente das promessas dos Acordos de Oslo de 1993, foi também a causa próxima do desencadeamento da segunda intifada pelos palestinos dos territórios ocupados, a qual se prolongou durante vários anos e da qual resultaram milhares de mortos, cerca de 3000 palestinos e 1000 israelitas.

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