Lisboa encheu-se de vozes pela Palestina do Camões à Ribeira das Naus

«Palestina vencerá!» foi a palavra de ordem que mais uma vez ecoou no passado sábado, 5 de Julho, pelas ruas da Baixa lisboeta, durante uma manifestação que uniu um milhar de pessoas contra o genocídio em curso na Faixa de Gaza e em defesa do povo palestino. 

A manifestação, que ligou o Largo de Camões à Ribeira das Naus, foi promovida pelo Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC), pela CGTP-IN, pelo Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM) e pelo Projeto Ruído – Associação Juvenil, com o apoio de mais de 40 organizações.

No final da manifestação, saudou os manifestantes o economista João Rodrigues, subscritor do Manifesto “Pela Paz, Liberdade e Estado Social”. Seguiram-se no uso da palavra João Coelho, coordenador da USL da CGTP-IN; Raul Ramires, do MPPM; Mariana Metelo, do Projecto Ruído; Isabel Camarinha, em nome do CPPC. A apresentação esteve a cargo do humorista Manuel Rosa.

Foi anunciada uma nova acção para o próximo dia 11 de Julho, frente à Assembleia da República, data em que será discutido e votado o projeto de resolução do PCP que propõe o reconhecimento oficial do Estado da Palestina por Portugal.


Fotos: Diogo Pereira e Manuela Ferrer


Texto da intervenção de Raul Ramires pelo MPPM

Todos os que aqui estamos temos muitas perguntas, mas há uma que talvez resuma todas as outras: como é possível? Como foi e é possível estar em curso há 21 meses um dos mais cruéis e evidentes genocídios de que há memória, transmitido tantas vezes em tempo real, com todos os horrores possíveis e imaginários à vista de todos?

O rol de crimes é impossível de listar nestes breves minutos: desde bombardear hospitais e quem lá estiver dentro, metralhar crianças, matar crianças com armas de precisão, usar a água e comida como isco para a morte, manter mais de dois milhões de pessoas presas, reféns num verdadeiro e gigantesco campo de concentração, sem contacto físico com o exterior, completamente à mercê do predador que são as forças armadas de Israel, mover uma verdadeira guerra de extermínio, sem qualquer limite material ou moral. Ainda assim, o criminoso – o Estado de Israel – tão depressa enaltece e se orgulha dos seus crimes e ameaça aprofundá-los, como no minuto seguinte pretende, ridícula e vergonhosamente, adotar o papel de vítima.

Por incrível que pareça, e apesar de eles verem e saberem o mesmo que nós, ainda é possível encontrar quem se disponha a vir a público defender o Estado de Israel e os seus crimes e haver meios de comunicação social que dão palco a essa gente.

Mas o recreio criminoso, sanguinário, racista e genocida de Israel não são só os 365km2 da Faixa de Gaza. O MPPM há muito que denuncia o objetivo daquilo em que se tornou o Estado de Israel: impedir a criação de um Estado da Palestina viável e soberano, impedir os palestinos de viverem na sua terra, expulsá-los, não permitir que os que foram expulsos voltem e assim apropriar-se de toda a terra, das margens do rio Jordão ao Mar Mediterrâneo – no fundo, limpeza étnica e genocídio. E é isso que acontece também no resto da Palestina, em Jenin, em Hebron, em Masafer Yatta, em Jerusalém e em todas as cidades e campos da Palestina. Agora paira a ameaça, pela boca dos mais loucos membros do governo israelita, mas certamente pela cabeça de todos e aplaudida pelos EUA, de absorção formal da Cisjordânia por parte de Israel. 

Ainda, e para não ir mais atrás, nestes 21 meses Israel entreteve-se também a bombardear e invadir o Líbano e a Síria, bombardear o Iémen e agora, no último mês, desencadear uma guerra aberta com o Irão, a pretexto duma suposta pretensão deste país em obter a arma nuclear, quando toda a gente sabe que Israel a tem e recusa dar qualquer informação sobre a mesma. Esta guerra podia ter arrastado todo o mundo para consequências duma gravidade inimaginável. Mesmo assim Israel contou com o apoio, patrocínio e até, em alguns casos, euforia dos seus adeptos do costume: EUA, UE, NATO e uma grande parte daqueles que têm acesso a fazer passar as suas ideias nos órgãos de comunicação social de massas.

E a pergunta surge de novo: Como é possível? Como é possível que o governo português tenha tantas dificuldades em condenar estes crimes, em nomear os responsáveis e tomar medidas inequívocas que demonstrem que Portugal não quer, de forma nenhuma, estar associado a este crime de dimensões históricas? Como é possível o Governo português não defender sem rodeios o fim do acordo de Associação União Europeia x Israel? Como conseguem continuar a recusar-se a reconhecer o Estado da Palestina, com argumentos que nos envergonham a todos?

Não podemos aceitar que haja no mundo interesses tão poderosos que consigam manter estes crimes durante tanto tempo, com tantos cúmplices e propagandistas e com os governos de tantos países comprometidos com os seus executores.

E é por tudo isto que quando lutamos pela vida, direitos, dignidade e liberdade da Palestina e do seu povo, lutamos também pela nossa vida, direitos, dignidade e liberdade.

Pela Palestina, por um futuro que não nos envergonhe e por todos nós: Palestina Vencerá!

Segunda, 07 de Julho de 2025 - 11:44