Israel usou a censura militar para encobrir os primeiros colonatos da Margem Ocidental

Uma notícia do jornal israelita Haaretz, citada pelo site Middle East Monitor, revela que os dirigentes israelitas usaram a censura militar para ocultar a criação dos primeiros colonatos na Margem Ocidental ocupada.
O Haaretz revela um documento anteriormente classificado, intitulado «Gush Etzion – publicidade», enviado em 19 de Junho de 1969 ao gabinete do ministro israelita dos Negócios Estrangeiros da altura, Abba Eban, cujo assunto era a criação de colonatos civis na zona hoje conhecida como «bloco» Gush Etzion, perto do Belém, em terras ocupadas pretensamente para fins militares.
Os autores do documento indicavam que era imperativo manter secreto o verdadeiro motivo do confisco das terras e evitar «publicidade desnecessária», uma vez que «o confisco para necessidades militares pode ser facilmente defendido de um ponto de vista jurídico», ao passo que «empreendimentos civis são uma coisa completamente diferente».
Como assinala o Haaretz, «a construção de colonatos em áreas confiscadas pretensamente para necessidades de segurança era muito comum no princípio do movimento dos colonatos. Destinava-se a contornar o direito internacional, que proibia a construção de estruturas civis em território ocupado».
O documento acrescentava que era «necessária actividade urgente e vigorosa entre os decisores a fim de impedir uma situação em que, com nossas próprias mãos, causemos a nós próprios prejuízos inteiramente desnecessários, ao tornar públicas coisas que basicamente podem ser feitas de forma discreta».
Esta revelação surge depois de, no início de Agosto, o Haaretz ter revelado [ver notícia de 3 de Agosto na página do MPPM] as actas secretas de uma reunião de Julho de 1970 em que altos funcionários israelitas discutiram o seu plano de expropriar terras perto de Hebron alegadamente para «finalidades de segurança», mas na realidade com a intenção de as usar para criar um colonato civil.
Estes documentos constituem novas provas de que o governo israelita recorreu a mentiras deliberadas para criar nos territórios palestinos ocupados em 1967 colonatos que sabia serem ilegais. Com efeito, um memorando «extremamente secreto» de 1968, da autoria de um conselheiro jurídico do governo, deixava claro que a criação de colonatos civis nos territórios recentemente ocupados violaria o direito internacional.
Desde então, e sobretudo após os Acordos de Oslo, prosseguiu a construção de colonatos. Desde que, há quase 50 anos, Israel ocupou militarmente a Margem Ocidental e anexou Jerusalém Oriental — acto que não é reconhecido internacionalmente —, foram construídos na Margem Ocidental cerca de 120 colonatos, em que vivem 400.000 judeus; em Jerusalém Oriental vivem 200.000 judeus israelitas.
O governo israelita anunciou recentemente novos planos para a construção de mais de 1000 novas unidades habitacionais nos colonatos, provocando uma condenação generalizada, da OLP e da Autoridade Palestina, e também da ONU, da União Europeia, da Rússia, dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, entre outros.
 
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