Israel lança mortífero ataque aéreo e terrestre contra campo de refugiados de Jenin

As forças armadas israelitas lançaram, na madrugada desta segunda-feira, uma operação em grande escala contra o campo de refugiados de Jenin, no norte da Cisjordânia ocupada, envolvendo meios aéreos e terrestres, matando pelo menos oito palestinos e ferindo mais de cinco dezenas, estando alguns em estado crítico.

Walid al-Omari, chefe do escritório de Jerusalém da Al Jazeera, confirmou que cerca de 150 veículos blindados e cerca de 1000 soldados das forças especiais de elite e do exército, bem como dos serviços secretos, da polícia e da polícia de fronteira estavam a participar na operação, impondo um cerco total ao campo, enquanto as forças especiais operavam no interior do campo, invadindo casas, revistando-as e prendendo muitas pessoas.

Antecedendo a invasão terrestre, Israel lançou mais de uma dezena de ataques aéreos contra Jenin durante a noite desta segunda-feira, causando a morte a três palestinos e provocando grande destruição em edifícios.

O correspondente da WAFA disse que as forças de ocupação abriram fogo contra pessoas que estavam no departamento de emergência do Hospital Ibn Sina, localizado perto do campo de refugiados. Segundo ele, os soldados estavam também a utilizar civis como escudos humanos no campo de refugiados de Jenin.

O Crescente Vermelho palestino disse estar a trabalhar em coordenação com a Cruz Vermelha e com organizações internacionais para forçar Israel a abrir uma com urgência uma passagem segura para evacuar os feridos.

Resistência palestina

Num comunicado divulgado esta manhã, as Brigadas de Jenin disseram que os seus combatentes tinham feito explodir um veículo militar israelita e impedido o avanço dos soldados israelitas invasores em várias zonas de Jenin. Afirmavam ainda que estavam a decorrer combates ferozes em torno da cidade e do campo de refugiados.

As Brigadas de Jenin reclamam ter abatido dois drones militares israelitas durante os combates desta segunda-feira, elevando para três o número de drones israelitas abatidos desde domingo.

Numa declaração aos meios de comunicação social, feita após o ataque israelita a Jenin, o chefe do gabinete político do Movimento de Resistência Islâmica Hamas, Ismail Haniyeh, afirmou que a Resistência Palestina sabe exactamente como responder à agressão israelita.

A utilização de engenhos explosivos caseiros, como os que foram utilizados durante o ataque israelita do mês passado ao campo de refugiados de Jenin, causando ferimentos em oito soldados e a destruição de um veículo blindado, parece ter apanhado de surpresa as forças israelitas.

Jornalistas visados

Os jornalistas e repórteres palestinos que cobrem as operações são especialmente visados pelas forças israelitas.

O correspondente da WAFA disse que as forças de ocupação abriram fogo contra o repórter da TV al-Arabi, Amid Shehadeh, e o operador de câmara Rabi Munir, destruindo os seus equipamentos.

Cinco outros jornalistas disseram que estavam encurralados dentro de uma casa no campo e que estavam debaixo de fogo das forças israelitas, apelando ao Comité Internacional da Cruz Vermelha para que os evacuasse.

Há pouco mais de um ano a jornalista palestino-americana da Al Jazeera Shireen Abu Nakleh, também quando cobria uma operação contra Jenin, foi abatida por um atirador do exército israelita sem que, até à data, alguém tenha sido responsabilizado pela sua morte.

Teatro da Liberdade atingido

Um míssil disparado por um drone israelita atingiu o Teatro da Liberdade. Segundo fontes médicas do Crescente Vermelho uma criança foi ferida por estilhaços da explosão.

O director do Teatro da Liberdade, Mustafa Sheta, escreveu no Facebook: «O pátio do Teatro da Liberdade foi bombardeado. Dezenas de residentes do campo de Jenin vivem aqui à volta. Estão a tentar fugir das suas casas por causa dos bombardeamentos que atingiram tudo o que é vivo no campo.»

Sheta disse à WAFA que as forças de ocupação destruíram as estradas e um memorial aos mortos do campo localizado perto da entrada do teatro, que foi inaugurado em 2006.

Escalada da violência

Os ataques de segunda-feira ocorreram num contexto de escalada de violência na Cisjordânia, incluindo o primeiro ataque israelita com drones na zona desde 2006, o aumento dos ataques militares a Jenin e ao Norte dos territórios palestinianos ocupados e os ataques de colonos em aldeias palestinas.

Pelo menos três palestinos foram mortos no ataque do drone israelita em 21 de Junho, enquanto sete foram mortos e mais de 100 ficaram feridos num ataque que envolveu helicópteros sobre Jenin em 19 de Junho. Atiradores palestinos mataram também quatro colonos israelitas em 20 de Junho, enquanto pelo menos um palestino foi morto a tiro no dia seguinte, quando os colonos israelitas invadiram a aldeia de Turmus Ayya e incendiaram dezenas de carros e casas.

Pelo menos 185 palestinos, 25 israelitas, um ucraniano e um italiano foram mortos desde o início do ano, de acordo com uma contagem da AFP compilada a partir de fontes oficiais de ambos os lados.

Ali Abunimah, fundador do site The Electronic Intifada, em declarações à Al Jazeera, responsabiliza Israel e os seus apoiantes pela continuação da violência.

«Israel e os seus facilitadores no Ocidente, principalmente os Estados Unidos e a União Europeia, são os únicos responsáveis pelo derramamento de sangue. O controlo desta violência está ao seu alcance. Ela é o resultado das suas políticas de permitirem que o ocupante ataque descontroladamente os palestinos no seu esforço implacável para roubar as suas terras e substituí-los por colonos de todo o mundo», acusa Abunimah. «É a resistência que está a responder à colonização e invasão israelitas, não é Israel que está a responder aos palestinos».

Alarme nas Nações Unidas

A recente onda de violência na Cisjordânia ocupada corre o risco de ficar fora de controlo, segundo o Alto-Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, que condenou o uso de força letal por parte de Israel no ataque de 19 de Junho ao campo de refugiados de Jenin que matou pelo menos sete palestinos, incluindo crianças.

Volker Turk fez as declarações na sexta-feira, 23 de Junho, alertando para o facto de a situação se estar a deteriorar acentuadamente devido à utilização de armamento pesado, instando Israel a pôr termo à violência.

«A violência desta semana [19 a 23 de Junho] na Cisjordânia ocupada corre o risco de ficar fora de controlo, alimentada por uma retórica política estridente e por uma escalada na utilização de armamento militar avançado por parte de Israel», afirmou Turk num comunicado.

Turk classificou os ataques aéreos com helicópteros como uma «grande intensificação do uso de armamento geralmente associado à condução de hostilidades armadas, em vez de uma situação de aplicação da lei».

Turk apelou a Israel para que respeite o direito internacional, acrescentando que a situação actual serve «apenas para conduzir israelitas e palestinos para um abismo ainda maior».

«Israel deve urgentemente redefinir as suas políticas e acções na Cisjordânia em conformidade com as normas internacionais em matéria de direitos humanos, incluindo a protecção e o respeito pelo direito à vida», afirmou Turk.
 

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