Israel lança 100 ataques aéreos contra Gaza. Manifestação semanal da Grande Marcha do Retorno adiada

Israel atacou cerca de 100 locais na Faixa de Gaza cercada na noite de quinta para sexta-feira.

Nestas condições, a comissão organizadora da Grande Marcha do Retorno «apelou para o adiamento das marchas de hoje [sexta-feira] a título excepcional», guiada pelo «interesse público» e num esforço para manter a calma na Faixa de Gaza e evitar escaladas. É a primeira vez que as manifestações são interrompidas desde o seu início, há 51 semanas.

O exército sionista afirma ter actuado em resposta a dois rockets lançados sobre Tel Aviv a partir da Faixa de Gaza na noite anterior, o que não acontecia desde a agressão israelita de 2014 («operação Margem Protectora»).

Porém, as facções armadas na Faixa de Gaza — Hamas, Jihad Islâmica, Frente Popular para a Libertação da Palestina e Comités de Resistência Popular — negaram todas a responsabilidade pelo lançamento dos rockets. No momento dos disparos a direcção do Hamas estava aliás reunida com uma delegação egípcia para discutir uma trégua prolongada com Israel. 

O Ministério do Interior e Segurança de Gaza declarou que o disparo dos mísseis violava o acordo entre as facções da resistência e o consenso nacional para evitar uma escalada militar com Tel Aviv, e anunciou que tomará as medidas necessárias contra os responsáveis.

Os ataques aéreos isrelitas, os mais intensos dos últimos cinco meses, atingiram cerca de 100 alvos que, afirma o exército sionista, pertencem ao Hamas. Por ser a força governante na Faixa de Gaza, Israel tem por norma responsabilizar automaticamente o Hamas, qualquer que seja a autoria real dos disparos.

O Ministério da Saúde da Palestina em Gaza confirmou que ficaram feridos quatro palestinos, um casal na cidade de Rafah e duas outras pessoas na cidade de Gaza.

Após os primeiros ataques aéreos israelitas, a resistência palestina lançou vários rockets da Faixa de Gaza contra Israel.

Na sequência de uma mediação do Egipto, terá entrado em vigor um cessar-fogo a partir das 8h da manhã locais. Um sintoma do alívio da tensão é o exército israelita ter avaliado que os rockets foram disparados «por engano», durante trabalhos de manutenção.

Este episódio, cuja verdadeira origem ainda está por esclarecer, teve imediata repercussão na campanha eleitoral israelita para as eleições legislativas antecipadas de 9 de Abril.

Naftali Bennett, do partido Nova Direita (e ministro da Educação do governo cessante), reclamou a retomada da política de assassínio dos dirigentes do Hamas. Por seu lado, Benny Gantz, ex-chefe de Estado Maior das Forças Armadas e cabeça de lista da coligação Azul e Branco (dita de «centro-esquerda»!) afirmou que «só acções agressivas e duras restaurarão a dissuasão que foi corroída» sob a vigilância do primeiro-ministro.

Ver Netanyahu criticado pela sua «brandura» diz muito sobre o ambiente em que decorre a campanha eleitoral israelita (e sobre o clima ideológico em Israel), em que os principais contendentes parecem querer ultrapassar-se uns aos outros em agressividade e ódio aos palestinos. E suscita fundados receios de uma nova escalada no futuro próximo.

 

 

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