Israel força limpeza étnica no bairro Sheikh Jarrah em Jerusalém Oriental

As forças de ocupação israelitas agrediram e dispersaram, na noite de sábado, dezenas de manifestantes não violentos palestinos que realizavam uma concentração no bairro Sheikh Jarrah, em Jerusalém Oriental ocupada, contra uma ameaça iminente de despejo das suas casas.

O Tribunal Distrital de Jerusalém decidiu que pelo menos seis famílias deviam abandonar as suas casas em Sheikh Jarrah até 2 de Maio, apesar de aí terem vivido durante gerações.

O mesmo tribunal decidiu que sete outras famílias devem abandonar as suas casas até 1 de Agosto. No total, 58 pessoas, incluindo 17 crianças, estão previstas para serem deslocadas à força para dar lugar aos colonos israelitas.

Aref Hammad, porta-voz das famílias de Sheikh Jarrah, disse que existem actualmente 28 unidades habitacionais, onde vivem 87 famílias, que enfrentam a ameaça de despejo para dar lugar a um novo colonato israelita conhecido como Shimon HaTsadiq.

Um plano para o colonato, que consiste em 200 unidades habitacionais, já foi apresentado ao município israelita em Jerusalém.

Supremo de Israel: palestinos devem pagar renda para habitar as suas próprias casas

Entretanto, no domingo, o Supremo Tribunal israelita deu a quatro famílias palestinas de Sheikh Jarrah um prazo até quinta-feira para chegarem a um acordo com os colonos judeus israelitas relativamente à propriedade das suas casas, informou a Al Jazeera.

O acordo proposto pelo tribunal exige que as famílias palestinas paguem aos colonos israelitas para alugarem as suas casas até os actuais proprietários falecerem, altura em que as propriedades reverteriam para os colonos e não para os seus herdeiros.

De acordo com a Al Jazeera, as famílias recusaram esta proposta, considerando-que ela equivalia a um reconhecimento das reivindicações dos colonos. Em contrapartida, as famílias sugeriram pagar a um fundo à guarda do tribunal até que seja tomada uma decisão final sobre a propriedade das suas casas.

O roubo por Israel de propriedades palestinas em Jerusalém

Um comunicado de imprensa da Autoridade Palestina acusa Israel de roubo das propriedades palestinas em Jerusalém:

«As políticas ilegais de expulsões forçadas e demolições de casas de Israel continuam a visar e a deslocar centenas de famílias palestinas em Jerusalém Oriental ocupada. Grupos extremistas de colonos israelitas, apoiados pelo Governo israelita e pelo Município israelita de Jerusalém, continuam a apropriar-se de casas palestinas e a reivindicar a posse de mais propriedades palestinas sob o pretexto de serem «propriedade judaica» antes de 1948.

Entre os muitos bairros palestinos da cidade que enfrentam esta ameaça, encontra-se Sheikh Jarrah.

De Qatamon, em 1948, a Sheikh Jarrah, em 2021, o objectivo de Israel tem sido o de deslocar à força o povo palestino, tomar posse das suas propriedades, e tornar impossível o exercício dos seus direitos inalienáveis, incluindo o direito à autodeterminação.»

Uma interminável batalha jurídica

No ano passado, o Tribunal Distrital israelita em Jerusalém decidiu despejar 12 famílias palestinas das suas casas em Sheik Jarrah para entregar as casas aos colonos israelitas.

As decisões do tribunal são o culminar de uma luta de décadas para que estes palestinos permaneçam nos seus lares. Em 1972, várias organizações de colonos judeus entraram com uma acção judicial contra as famílias palestinas que viviam em Sheikh Jarrah, alegando que a terra pertencia originalmente aos judeus.

Estes grupos, na sua maioria financiados por doadores dos Estados Unidos, travaram uma batalha implacável que resultou na deslocação de 43 palestinos em 2002, bem como das famílias Hanoun e Ghawi em 2008 e da família Shamasneh em 2017.

A história palestina de Sheikh Jarrah

No citado comunicado da AP, Sheikh Jarrah é descrito como um dos bairros palestinos notáveis, fora da Cidade Velha de Jerusalém, que tem preservado uma marca cultural e um sentido ao longo da história. Acolhe a histórica Mesquita Sheikh Jarrah, a Catedral e Colégio Saint George, o Colégio Dar-el Tefl, o Teatro Nacional Palestino (Al Hakawati), a Casa do Oriente (Sede da OLP), os Hospitais Francês e Saint John, hotéis de destaque e várias missões diplomáticas.

As políticas ilegais de Israel em Sheikh Jarrah visariam fragmentar o bairro e criar uma descontinuidade geográfica entre outros bairros palestinos em Jerusalém (tais como Shuafat e Beit Hanina) e a Cidade Velha.

Nas últimas décadas, Sheikh Jarrah tem sido vítima dos planos coloniais de Israel, concebidos para alterar o carácter e a identidade da capital palestiniana ocupada - incluindo o colonato ilegal de Ma'alot Dafna, um novo complexo de colonatos nas instalações do histórico Shepherd Hotel, um complexo para três hotéis israelitas (Olive Tree, Grand Court, e Leonardo) e instalação da sede da organização de colonos israelita Amana.

Dupla ou triplamente refugiados

Muitas das famílias residentes em Sheikh Jarrah são originárias de Jerusalém Ocidental e de outras partes da Palestina histórica, e tornaram-se refugiados na sequência da Nakba de 1948.

Em Jerusalém Ocidental, foi conduzida uma campanha de limpeza étnica, incluindo o massacre de Deir Yassin e o ataque terrorista contra o Hotel Semiramis em Qatamon, levando à deslocação forçada de mais de 40 000 palestinos.

Um número significativo deles reinstalou-se na parte oriental da cidade para continuar a enfrentar, desde 1967, um segundo e mesmo um terceiro deslocamento forçado pela potência ocupante.
 

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