Israel está já a preparar no terreno a anexação do Vale do Jordão

O exército israelita já está a preparar no terreno a anexação do Vale do Jordão, isolando-o das povoações vizinhas na Cisjordânia, fazendo acompanhar a separação política por uma separação física. Ontem, segundo a agência noticiosa Wafa, colocou blocos de cimento nas estradas que dão acesso das povoações de al-Mughayyer e Duma, a sul de Nablus, e Kufr Malik, a leste de Ramala, a uma estrada chamada Allon Road, que conduz ao Vale do Jordão.

O Primeiro-Ministro israelita Benjamin Netanyahu tem prometido anexar o Vale do Jordão e todos os vastos colonatos ocupados por Israel na Cisjordânia, de acordo com o plano Trump para o Médio Oriente, a partir de 1 de Julho. Netanyahu tem deixado claro que Israel «vai anexar a terra, mas não as pessoas».  Poucos, ou nenhuns, palestinos obteriam a cidadania israelita, deixando o seu estatuto jurídico incerto.

O Vale do Jordão alberga cerca de 60 000 palestinos, mas quase 90% do território faz parte da chamada Área C, os três quintos da Cisjordânia que estão sob controlo total de Israel. No Vale do Jordão, a Área C inclui zonas militares fechadas e cerca de 50 colonatos agrícolas que albergam cerca de 12 000 israelitas.
Os palestinos estão impedidos de entrar nessas zonas e de sair das terras que possuem. Estão proibidos de cavar poços ou de construir qualquer tipo de infra-estrutura sem licenças militares, virtualmente impossíveis de obter: entre 2009 e 2016, menos de 2% dos pedidos foram aprovados. Tudo o que for construído sem licença, desde ampliações de casas até tendas, recintos para animais e redes de irrigação, corre o risco de ser demolido pelos militares israelitas.

Durante gerações, os habitantes da aldeia de Fasayil pastoreavam os seus rebanhos e cultivavam as suas terras no Vale do Jordão, que era considerado como o celeiro do futuro Estado Palestino. Actualmente, as pastagens a oeste e a leste, que levam às margens do rio Jordão, foram engolidas por colonatos ilegais ou vedadas pelos militares israelitas e quase todos os homens trabalham para os colonos israelitas nas explorações agrícolas que se espalham para norte e sul.

Os palestinos de todo o Vale do Jordão manifestaram a sua preocupação de que, com o plano de anexação, esta situação se generalize, deixando-lhes só duas opções: emigrar ou ficar a trabalhar para os colonos, com baixos salários e sem direitos cívicos ou políticos.

Shaul Arieli, um comandante militar israelita reformado que trabalhou na demarcação das fronteiras durante o processo de paz nos anos 90, numa entrevista para a Aljazeera, estima que os palestinos perderão até 70.000 hectares de terras privadas. Arieli prevê que Israel trace uma nova fronteira de 200 km entre o Vale do Jordão e o resto da Cisjordânia ocupada e uma fronteira de 60 km em torno da cidade palestina de Jericó.

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