Israel ataca com mísseis alvo militar da Síria em Masyaf, 2 soldados mortos

Na madrugada de hoje, 7 de Setembro, vários mísseis israelitas, que atravessaram o espaço aéreo libanês, atingiram forças militares sírias e o centro de pesquisa científica da cidade de Masyaf, na província de Hama (noroeste da Siria). Masyaf está localizada a aproximadamente 60 km a leste da cidade costeira de Tartus, onde a Rússia tem uma base naval.
«Aviões israelitas dispararam às 2h42m de hoje vários mísseis do espaço aéreo libanês, tendo como alvo uma das nossas posições militares perto de Masyaf, que resultaram em danos materiais e na morte de dois membros do pessoal local», informou o Exército sírio em comunicado. Outras fontes, citadas pela Al-Masdar News, indicam que o ataque israelita atingiu também o Centro de Investigação e Estudos Científicos em Masyaf.
As autoridades israelitas, como de costume, não comentaram oficialmente a notícia. Porém, a imprensa israelita referiu-se largamente ao assunto, assumindo claramente a autoria do ataque. Várias personalidades do Estado sionista gabam-se até deste acto de agressão, violando a soberania da Síria e do Líbano, e demonstrando o perigo que Israel representa para a paz na região.
O general na reserva Amos Yadlin, director executivo do Instituto de Estudos de Segurança Nacional da Universidade de Tel Aviv e antigo chefe da Direcção de Informações Militares, observou no Twitter que «o ataque noticiado na noite passada não é rotina».
Yadlin invoca uma nobre motivação ética: «O ataque é uma afirmação moral israelita sobre o massacre na Síria». Naturalmente, quem melhor para dar lições sobre massacres e moral? Mas logo de seguida apresenta as reais razões políticas do ataque: «O ataque envia 3 mensagens importantes. 1: Israel não permitirá a capacitação e produção de armas estratégicas; 2: Israel tem a intenção de fazer valer as suas linhas vermelhas, apesar de as grandes potências as estarem a ignorar; 3: A presença de defesa aérea russa não impede ataques aéreos atribuídos a Israel.»
Também o próprio ministro da Defesa israelita, Avigdor Lieberman, citado pelo jornal The Times of Israel, insiste na tónica anti-Irão e anti-Hezbollah e afirma horas depois do ataque: «Faremos o que for preciso para evitar um corredor xiita do Irão até Damasco.» Segundo as suas palavras, Israel continuaria a atacar, sempre que necessário, alvos militares do Hezbollah.
O momento deste ataque israelita não é casual, como também não é casual que Israel reconheça de forma cada vez mais descarada e estridente o seu papel de agressor, violando a soberania de outros Estados e o direito internacional.
Ainda muito recentemente o general Amir Eshel, comandante cessante da Força Aérea de Israel, afirmou (Haaretz, 17 de Agosto) que desde 2012 Israel lançou dezenas de ataques na frente norte e outras, a primeira vez que tal é reconhecido por um alto comandante militar israelita.
Israel vê a sua posição estratégica na região enfraquecida e a sua capacidade de manobra reduzida. Com a entrada em cena da Força Aérea russa na Síria, Israel perdeu a vantagem estratégica do domínio aéreo incontestado. E com as sucessivas derrotas das forças terroristas às mãos do exército sírio e dos seus aliados, nomeadamente a Rússia, o Irão e o Hezbollah, as fronteiras da Síria estão progressivamente a regressar ao controlo das forças governamentais ou a ser abrangidas por «zonas de desescalada». Em fins de Julho, por iniciativa da Rússia, o governo sírio alcançou um cessar-fogo parcial com as forças que o combatem. Os Estados Unidos têm estado a diminuir a sua intervenção e concordaram com a iniciativa russa.
Israel tem insistido no «perigo» que representam o Hezbollah e a presença iraniana na Síria. Foi o que foi dizer a Washington, em 18 de Agosto, uma delegação de chefes de vários serviços de informações de Israel. O mesmo foi Netanyahu dizer a Pútin, em Sotchi, em 23 de Agosto. Os resultados não parecem ter sido de molde a tranquilizar o Estado sionista. Washington e Moscovo não deram ouvidos aos protestos de Israel contra o facto de o acordo de desescalada no Sul da Síria não exigir que o Irão e as milícias suas aliadas estivessem ausentes dos Montes Golã. Mais recentemente ainda, foi derrotada a tentativa israelita de o conselho de Segurança da ONU modificar o mandato da UNIFIL (força da ONU no Sul do Líbano) para incluir uma fiscalização «reforçada» do Hezbollah.
Cabe também recordar que este ataque «coincide» com o maior exercício militar dos últimos 10 anos na «frente norte» de Israel, que visa preparar precisamente uma «guerra com o Hezbollah», ou seja, uma nova agressão ao Líbano, de onde Israel saiu derrotado em 2006.
E também não será por acaso que o ataque tem lugar apenas dois dias depois de o Exército Árabe Sírio derrotar o ISIS (Daech) e retomar o controlo de Deir ez-Zor, vitória que é classificada como «viragem estratégica na guerra ao terrorismo».
Israel está habituado a que a sua vontade seja feita. Sempre assim tem sido, e Israel quer que assim continue a ser. Neste sentido, pode ter razão o jornalista israelita Amos Harel, especialista em questões militares, ao escrever hoje no Haaretz: «Trump e Pútin são os verdadeiros alvos» do ataque à Síria.
 
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