Israel arrasa comunidade palestina no norte do Vale do Jordão
Na manhã da passada segunda-feira, trabalhadores da administração civil israelita, protegidos por soldados do exército de ocupação, levaram a cabo uma operação de demolição em grande escala contra propriedades civis em Humsa al-Fouqa, no norte do Vale do Jordão, a leste da cidade de Tubas.
Vinte e oito habitações e instalações para gado, pertencentes a 11 famílias, foram demolidas, deixando desalojados 85 palestinos, incluindo 45 crianças. Todo o conteúdo foi confiscado.
Os soldados intimaram os residentes a acompanhá-los para serem transferidos para a área de Ein Shibley, junto ao posto de controlo de Al Hamra, a leste de Nablus. Como a transferência forçada foi recusada, os soldados ameaçaram que voltariam.
Na quarta-feira de manhã, cumprindo a ameaça, os soldados voltaram, isolaram a comunidade e desmantelaram os abrigos temporários que tinham sido reerguidas com o apoio de activistas, deixando os locais sem protecção contra o frio nocturno do deserto.
Já em 3 de Novembro passado, o exército israelita tinha conduzido outra campanha de demolição em larga escala, na mesma área, que incluiu a demolição de 70 habitações e instalações e o desalojamento de 60 palestinos, na sua maioria crianças.
O Presidente Mahmoud Abbas telefonou ontem para activistas que lutam contra as tentativas de Israel de deslocar a comunidade palestina de Humsa al-Fouqa para lhes expressar a sua solidariedade e incitá-los a manterem-se firmes na defesa da terra e ods direitos palestinos e a resistirem a todo o custo aos colonatos israelitas.
A demolição foi condenada pelo Primeiro-Ministro palestino, Mohammad Shtayyeh, como um acto de «terrorismo de estado organizado, que envolve a limpeza étnica da população indígena para favorecer os colonos nas campanhas eleitorais israelitas, que o nosso povo paga com as suas terras, propriedades e sofrimento.»
Shtayyeh deslocou-se hoje a Humsa al-Fouqa acompanhado de outros membros do governo e do Presidente da Comissão Contra o Muro e os Colonatos, Walid Assaf, para além de representantes da igreja e de diplomatas da União Europeia.
O estratégico (para Israel) Vale do Jordão
O Vale do Jordão, que é uma faixa fértil de terra que acompanha a margem ocidental do rio Jordão, é o lar de cerca de 65 000 palestinos e ocupa aproximadamente 30% do território da Cisjordânia.
Desde 1967, quando o exército israelita ocupou a Cisjordânia, Israel transferiu pelo menos 11 000 dos seus cidadãos judeus para o Vale do Jordão. Alguns dos colonatos em que eles vivem foram construídos quase inteiramente em terras privadas palestinas.
Os militares israelitas também designaram cerca de 46% do Vale do Jordão como zona militar fechada desde o início da ocupação em Junho de 1967, e têm utilizado o pretexto de exercícios militares para deslocar à força as famílias palestinas que ali vivem, como parte de uma política de limpeza étnica e de asfixia do desenvolvimento palestino na região.
Cerca de 6200 palestinos vivem em 38 comunidades em locais destinados a uso militar e tiveram de obter autorização das autoridades israelitas para entrar e viver nas suas comunidades.
Em violação do direito internacional, os militares israelitas não só deslocam temporariamente as comunidades numa base regular como também confiscam as suas terras agrícolas, demolindo as suas casas e infra-estruturas de tempos a tempos.
As famílias palestinas que aí vivem enfrentam, ainda, inúmeras restrições no acesso a recursos e serviços.
Entretanto, Israel explora os recursos da área e apropria-se de generosos lotes de terra e de recursos hídricos para benefício dos colonos.
Os políticos israelitas têm deixado claro em várias ocasiões que o altamente estratégico Vale do Jordão permaneceria sob o seu controlo em qualquer eventualidade.