Irmãos palestinos recebem prémio internacional Defensores dos Direitos Humanos em Risco

Os irmãos palestinos Sami e Sameeha Huraini, juntamente com defensores dos direitos humanos de outros cinco países – entre os quais Mamadou Ba, de Portugal –, foram distinguidos com o prémio internacional Defensores dos Direitos Humanos em Risco 2021 atribuído pela organização Front Line Defenders.

A organização homenageia defensores dos direitos humanos que trabalham em questões que incluem justiça racial, direitos de habitação, direitos das minorias, protecção e defesa do ambiente e da terra, autodeterminação e direitos dos deficientes, e que enfrentam várias formas de assédio, intimidação e ameaças, tendo alguns enfrentado a violência e outros sido detidos e acusados.

Sami Huraini é um defensor dos direitos humanos palestino e membro da direcção do Comité de Coordenação da Luta Popular (PSCC), um comité que se opõe à extensão dos colonatos israelitas ilegais através de manifestações pacíficas. Sami Huraini é também membro da iniciativa popular «Juventude de Sumud», uma iniciativa que foi estabelecida para resistir pacificamente à ocupação israelita e aos colonatos israelitas ilegais no Sul de Hebron. Sami Huraini também tem estado envolvido na protecção dos civis palestinos contra os ataques dos colonos, acompanhando as crianças palestinas às escolas e acompanhando os agricultores palestinos às suas terras perto da linha verde.

Sameeha Huraini é uma activista dos direitos humanos, trabalhando com mulheres, jovens e crianças na sua aldeia, At-Tuwani e na região das Colinas do Sul de Hebron. Ela estuda inglês na universidade, o que lhe dá os instrumentos para divulgar as histórias de At-Tuwani, a ocupação e as das Colinas do Sul de Hebron por todo o mundo.

A «Juventude de Sumud» formou-se em 2017 na região das Colinas do Sul de Hebron, em resposta à agressão e violência militares contra agricultores, famílias e crianças em idade escolar na região. Membros da «Juventude de Sumud» comprometeram-se a reanimar a aldeia de Saurora, localizada no extremo sul da Cisjordânia, perto da aldeia de At-Tuwani. A aldeia foi abandonada nos anos 90 devido à violência dos colonos do posto avançado ilegal israelita vizinho de Havat Ma'On, e as antigas casas rupestres foram danificadas ou demolidas. A juventude de Sumud reconstruiu as habitações e estabeleceu uma presença permanente em Saurora.

Além disso, a «Juventude de Sumud» assumiu a responsabilidade de garantir a segurança das crianças em idade escolar da aldeia vizinha de Tuba enquanto caminham entre a escola e o posto avançado israelita vizinho. O assédio de pastores palestinos por colonos e soldados israelitas é comum na área e membros da «Juventude de Sumud» acompanham frequentemente os pastores das aldeias vizinhas enquanto pastoreiam os rebanhos.

Sami e Sameeha recebem o prémio para a região Médio Oriente e Norte de África. Os restantes premiados de 2021 são:

África: Aminata Fabba (Serra Leoa). É Presidente da Associação de Proprietários de Terras Ameaçados em Malen (MALOA), e é uma activista dos direitos da terra, mobilizando apoio contra qualquer ocupação de terras pela Socfin Agricultural Company (SAC) e outras empresas de biocombustível, o que lhe tem valido a prisão.

Américas: Camila Moradia (Brasil). Foi fundadora do colectivo Mulheres em Acção no Alemão (MEAA), estabelecido no Complexo do Alemão, um conjunto de favelas na zona Norte do Rio de Janeiro, que tem por missão acabar com a violência contra as mulheres e contribuir para dar poder às mulheres e as suas famílias, reforçando assim a sua autonomia e garantindo os seus direitos básicos.

Ásia-Pacífico: Mãe Natureza Camboja (Camboja). É um movimento de defesa dos direitos ambientais que advoga e faz campanhas, local e internacionalmente, para a preservação, promoção e protecção do ambiente natural do Camboja. O que começou como uma pequena campanha para dar poder às comunidades indígenas para se mobilizarem contra uma hidroeléctrica evoluiu para um grande movimento de defensores dos direitos humanos, na sua grande maioria jovens estudantes universitários, que faz campanha para proteger o ambiente e expor corrupção no Camboja.

Europa e Ásia Central: Aleh Hrableuski & Siarhei Drazdouski (Bielorrússia). Drazdouski é o Fundador e Director do Gabinete para os Direitos das Pessoas com Deficiência, onde Hrableuski trabalha como advogado. A organização fornece assistência, advoga e investiga sobre os direitos das pessoas com deficiência. Em Fevereiro de 2021 foram ambos detidos e interrogados pelo Comité de Investigação.

Europa e Ásia Central: Mamadou Ba (Portugal). Nascido no Senegal, e imigrante em Portugal, Mamadou Ba dedicou a sua vida ao activismo anti-racista. É membro do Movimento SOS Racismo desde 1999 e é membro fundador de várias organizações nacionais e europeias que defendem os direitos dos migrantes e pessoas racializadas. É um dos alvos preferidos de ataques de extrema-direita e movimentos neo-nazis em Portugal. No início de 2020, Mamadou Ba recebeu uma carta com uma ameaça de morte e uma caixa de balas em a sua casa. Em Fevereiro de 2021, foi lançada uma petição online para o despojar da sua cidadania e para o deportar de Portugal. E desde Junho, a sede do SOS Racismo foram vandalizados duas vezes com suásticas e ofensas racistas

A Front Line Defenders realiza tradicionalmente a sua cerimónia de entrega de prémios na Câmara Municipal de Dublin. Contudo, tal como em 2020, devido às restrições da COVID-19, no dia 9 de Dezembro, Dia Internacional dos Defensores dos Direitos Humanos, será realizada uma cerimónia de entrega de prémios online, com uma apresentação em vídeo do trabalho de cada um dos laureados regionais.

A Front Line Defenders estabeleceu o seu prémio anual em 2005. Em 2018, a organização começou a reconhecer cinco vencedores de todo o mundo, com um vencedor regional também nomeado Laureado Global. Em 2021, os Defensores da Linha da Frente tomaram a decisão de reconhecer igualmente cada vencedor regional.

O júri para o prémio Front Line Defenders 2021 foi composto pela Senadora Róisin Garvey (Green Party); e pelos Deputados Ivana Bacik (Labour Party); Seán Crowe (Sinn Féin); Cormac Devlin (Fianna Fáil); Gary Gannon (Social Democrats); e Jennifer Carroll MacNeill (Fine Gael).