Irão e Arábia Saudita restabelecem relações diplomáticas com mediação da China
O Irão e a Arábia Saudita acordaram restabelecer relações diplomáticas no prazo máximo de dois meses após uma semana de conversações patrocinadas pela China, em Pequim.
Entre 6 e 10 de Março, a delegação do Reino da Arábia Saudita, chefiada pelo Dr. Musaad bin Mohammed Al-Aiban, Ministro de Estado, Membro do Conselho de Ministros e Conselheiro de Segurança Nacional, e a delegação da República Islâmica do Irão chefiada pelo Almirante Ali Shamkhani, Secretário do Conselho Supremo de Segurança Nacional, estiveram reunidas em Pequim, a convite do Presidente Xi Jinping.
Na declaração final afirma-se a adesão aos princípios e objectivos das Cartas das Nações Unidas e da Organização de Cooperação Islâmica (OIC), bem como às convenções e normas internacionais. As partes saudita e iraniana agradecem à República do Iraque, ao Sultanato de Omã e à República Popular da China por terem acolhido rondas de diálogo em 2021, 2022 e 2023.
Os três países anunciaram que foi alcançado um acordo entre o Reino da Arábia Saudita e a República Islâmica do Irão, que inclui a retomar as relações diplomáticas entre eles e reabrir as suas embaixadas e missões num período não superior a dois meses.
O acordo inclui a sua afirmação do respeito pela soberania dos Estados e a não ingerência nos assuntos internos dos Estados. Acordaram igualmente que os Ministros dos Negócios Estrangeiros de ambos os países se reunirão para a sua implementação, providenciarão o regresso dos seus embaixadores, e discutirão meios de reforçar as relações bilaterais.
Concordaram igualmente em implementar o Acordo de Cooperação em Matéria de Segurança entre eles, assinado em 17 de Abril de 2001, e o Acordo Geral de Cooperação nos Domínios da Economia, Comércio, Investimento, Tecnologia, Ciência, Cultura, Desporto e Juventude, assinado em 27 de Maio de 1998.
Os três países manifestaram a sua vontade de exercer todos os esforços no sentido de reforçar a paz e segurança regional e internacional.
Acordo bem acolhido no mundo islâmico
A Al Jazeera divulga as primeiras reacções ao acordo.
O Iraque, que tinha acolhido várias rondas de conversações de reconciliação entre a Arábia Saudita e o Irão desde 2021, congratulou-se com o acordo. «Uma nova página foi aberta nas relações diplomáticas entre os dois países», disse uma declaração do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraquiano.
Anwar Gargash, conselheiro diplomático dos Emirados Árabes Unidos, também saudou o acordo e saudou o papel da China para o alcançar. «Os EAU acreditam na importância da comunicação positiva e do diálogo entre os países da região no sentido de consolidar os conceitos de boa vizinhança e partir de um terreno comum para construir um futuro mais estável para todos», escreveu ele no Twitter.
O principal negociador do movimento Houthi do Iémen, Mohammed Abdulsalam, disse que «a região precisa do restabelecimento de laços normais entre os seus países para que a nação islâmica recupere a sua segurança perdida em resultado da interferência estrangeira».
«Esta é uma vitória para todos e beneficiará a segurança regional e global», disse o Ministro dos Negócios Estrangeiros do Omã, Badr Albusaidi. «Esperamos que a longo prazo haja também potencial para aumentar os benefícios económicos para todos».
O Primeiro-Ministro e Ministro dos Negócios Estrangeiros do Catar, Sheikh Mohammed Bin Abdulrahman al-Thani, telefonou aos Ministros dos Negócios Estrangeiros do Irão e da Arábia Saudita para os felicitar pelo acordo.
Hassan Nasrallah, o dirigente do grupo libanês Hezbollah, disse que o restabelecimento dos laços entre o seu apoiante Irão e a Arábia Saudita era um «bom desenvolvimento».
«O Cairo espera que o acordo contribua para aliviar a tensão na região», afirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Egipto.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Barém congratulou-se com o acordo firmado entre a Arábia Saudita e o Irão sob os auspícios da China para retomar as relações diplomáticas entre os dois países.
O Ministro dos Negócios Estrangeiros da Turquia saudou o acordo numa chamada telefónica com o seu homólogo saudita.
China e Estados Unidos
Adnan Tabatabai - CEO do Center for Applied Research in Partnership with the Orient, um “think tank” com sede na Alemanha - disse à Al Jazeera que a China tem um grande interesse em não ver a situação de segurança regional cair no caos, tal como em 2019, quando as águas de Ormuz foram palco de várias explosões e ataques.
O Presidente iraniano Ebrahim Raisi visitou Pequim no mês passado, e o Presidente chinês Xi Jinping esteve em Riade em Dezembro para participar em reuniões com nações árabes do Golfo ricas em petróleo, cruciais para o abastecimento energético da China. A China é um dos principais compradores de petróleo saudita.
O porta-voz da Casa Branca, John Kirby, disse que a Arábia Saudita manteve Washington informada das suas conversações com o Irão, mas os Estados Unidos não estiveram directamente envolvidos, disse.
«A desescalada e a diplomacia, juntamente com a dissuasão, são pilares fundamentais do Presidente [Joe] Biden delineados durante a sua visita à região no ano passado», disse um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca à Reuters.
Referindo-se a os EUA não desempenharem qualquer papel neste acordo, Adnan Tabatabai disse que tem sido comum ouvir sentimentos anti-americanos no Irão, mas «pelo menos a partir do Outono de 2019, há também algum desapontamento e algum cepticismo crescente dentro da Arábia Saudita em relação ao papel dos EUA naquela região».
«O guarda-chuva de segurança já não é uma ideia real do que os EUA deveriam construir para a Arábia Saudita e os seus aliados, pelo que também se sentiu a necessidade na Arábia Saudita de pensar de uma maneira diferente sobre a forma como pode assegurar o seu território, fronteiras e interesses», comentou Tabatabi para a Al Jazeera.