Historiador israelita compila enorme base de dados documentando crimes de guerra de Israel em Gaza

O historiador israelita Lee Mordechai, professor associado da Universidade Hebraica de Jerusalém, que também foi bolseiro na Universidade de Princeton, nos EUA, compilou um extenso e metódico relatório documentando uma vasta série de crimes de guerra cometidos por Israel desde a invasão de Gaza em Outubro de 2023.

O relatório intitulado “Bearing Witness to the Israel-Gaza War” (Prestando Testemunho sobre a Guerra Israel-Gaza) tem, na versão inglesa, 124 páginas e todos os incidentes descritos estão documentados numa das mais de 1400 notas de rodapé. Recorrendo a relatos de testemunhas oculares, imagens de vídeo, artigos, fotografias e outro material de investigação, grande parte do qual gravado por soldados israelitas, o historiador produziu aquilo a que o Haaretz chama «a documentação mais metódica e detalhada dos crimes de guerra que Israel está a cometer em Gaza».

O artigo do Haaretz abre com a remissão para a nota de rodapé que contém uma ligação para um videoclipe. O vídeo mostra um cão de grande porte a roer algo no meio dos arbustos. «Wai, wai, ele apanhou o terrorista, o terrorista desapareceu – desapareceu nos dois sentidos», diz o soldado que filmou o cão a comer um cadáver. Passados alguns segundos, o soldado levanta a câmara e acrescenta: «Mas que vista deslumbrante, um pôr do sol deslumbrante. Um sol vermelho está a pôr-se sobre a Faixa de Gaza».

O Haaretz destaca em subtítulo: «Uma mulher com uma criança é alvejada enquanto agita uma bandeira branca | Raparigas esfomeadas são esmagadas até à morte na fila do pão | Um homem de 62 anos algemado é atropelado, evidentemente por um tanque | Um ataque aéreo tem como alvo pessoas que tentam ajudar um rapaz ferido | Uma base de dados com milhares de vídeos, fotografias, testemunhos, relatórios e investigações documenta os horrores cometidos por Israel em Gaza».

Também o Middle East Eye faz uma análise do documento – que Mordechai começou a publicar há um ano e tem vindo a manter actualizado – destacando algumas das atrocidades ali relatadas.

Uma nota de rodapé mostra imagens de palestinos a serem alvejados pelas forças israelitas enquanto erguiam uma bandeira branca.

Outras imagens compiladas pelo historiador – e, mais uma vez, muitas vezes filmadas pelas próprias forças israelitas – mostram um soldado a obrigar prisioneiros amarrados e vendados a mandarem cumprimentos à sua família e a dizerem que querem ser seus escravos.

Soldados israelitas são fotografados a segurar pilhas de dinheiro que saquearam de casas palestinas em Gaza e um bulldozer do exército israelita é visto a destruir uma grande pilha de pacotes de alimentos de uma agência de ajuda humanitária.

Noutro clip, um soldado israelita canta: «No próximo ano vamos queimar a escola», enquanto uma escola de Gaza é engolida pelas chamas ao fundo. Numerosos videoclipes documentados por Mordechai mostram soldados israelitas a posar com roupa interior de mulheres que saquearam.

Entre as dezenas de milhares de pessoas mortas durante a guerra, Mordechai inclui no documento a morte de quatro bebés prematuros depois de as forças israelitas terem decidido evacuar o hospital onde se encontravam. Uma enfermeira que cuidava de cinco bebés foi obrigada a escolher o mais forte, que conseguiu sobreviver.

Há também provas documentais que atestam o assassínio de pessoas com deficiência, agressões e humilhações sexuais, o incêndio de casas, tiroteios aleatórios, fome forçada, pilhagens e muito mais.

«Senti que não podia continuar a viver na minha própria bolha, que era uma questão de vida ou de morte, e que o que estava a acontecer era demasiado grande e contradizia os valores com que cresci aqui», disse Mordechai ao Haaretz.

Para ele, não há dúvida de que Israel está a cometer um genocídio: «Precisamos de desligar a forma como pensamos no genocídio enquanto israelitas – câmaras de gás, campos de extermínio e Segunda Guerra Mundial – do modelo que aparece na “Convenção para a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio (1948)”. Não é preciso que haja campos de extermínio para que seja considerado genocídio. Tudo se resume à prática de actos e à intenção, e a existência de ambos tem de ser estabelecida. No que diz respeito à prática de actos, trata-se de matar, mas não só - [há] também ferir pessoas, raptar crianças e até mesmo tentativas de impedir nascimentos entre um determinado grupo de pessoas. O que todos estes actos têm em comum é a destruição deliberada de um grupo».

O documento pode ser lido sequencialmente ou indo directamente a cada um dos capítulos:

- Sumário
- Declaração Ética e Profissional
- Prefácio
- O Massacre de Palestinos
- Causando a Morte de Populações Civis
- Desumanização
- Limpeza Étnica
- Reféns
- Cisjordânia
- Os Mídia e a Propaganda
- Envolvimento dos Estados Unidos

Três eventos são objecto de destaque:

1 - O Segundo Raide sobre al-Shifa (Março 2024)
2 - Protestos nas Universidades dos Estados Unidos (Abril-Maio 2024)
3 – Operação Norte de Gaza (Out. – Dez. 2024)
Finalmente, dois apêndices:

1 – Porquê Genocídio?
2 – Metodologia

Uma nota final: Devido às constantes actualizações, os números das notas de rodapé, por serem atribuídos automaticamente, vão variando. Também não há correspondência entre os números das notas de rodapé do documento integral e os do mesmo tema no capítulo respectivo.

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