Hamas e Fatah unem-se contra o plano de anexação de Israel
O Hamas e a Fatah concordaram em unir-se para enfrentar a planeada anexação por Israel da Cisjordânia ocupada, em declarações divulgadas na quinta-feira.
Saleh al-Arouri, chefe adjunto do Gabinete Político do Hamas, e o Major-General Jibril Rajoub, secretário do Comité Central da Fatah, participaram em conversações, tendo o dirigente da Fatah afirmado que a reacção à decisão de anexação mostrou um consenso popular para contrariar o plano, acrescentando que a unidade «vai inspirar-nos para construir uma visão estratégica, para liderar a rua».
«Queremos abrir uma nova página com o Hamas e introduzir um novo modelo para o nosso povo e famílias, especialmente porque a posição regional não tratou de forma alguma do projecto de anexação», acrescentou Rajoub.
Jibril Rajoub ainda apelou ao «mundo árabe e islâmico para respeitar as decisões das cimeiras árabes relativamente à normalização e a não estabelecer relações com a ocupação, porque há quem queira utilizar-nos como ponte para ter laços com Israel, quer secretamente, quer em público».
«Netanyahu e o seu governo falhado estão num estado de contradição com a comunidade internacional, e é nosso dever hoje, na Fatah e no Hamas, manter este estado de contradição no seu lugar».
Por sua vez, Al-Arouri disse que «todas as questões litigiosas serão congeladas, e nós vamos ultrapassá-las em benefício de um acordo estratégico e substantivo para resistir à ocupação».
Disse que o plano de anexação «exige que nos mantenhamos unidos num esforço sincero para frustrar o projecto da ocupação». Israel, explicou ele, vê a Cisjordânia como parte integrante do Estado sionista.
A notícia do entendimento entre o Hamas e Fatah para derrotar o “acordo do século” e o projecto de anexação da Cisjordânia, foi recebida com preocupação em Israel.
Segundo informa o site Middle East Monitor, o Canal 12 da televisão israelita considerou, ontem, que esse era «um desenvolvimento perigoso».
Aquele canal de televisão revelou que tal possibilidade era esperada, mas a segurança israelita não esperava que tal acontecesse num tão curto espaço de tempo, acrescentando: «É um desenvolvimento perigoso devido ao tempo muito curto de que precisaram para alcançar esta unidade, o que surpreendeu os serviços de segurança israelitas»
Entretanto, o antigo Ministro das Comunicações israelita Ayoob Kara declarou que a cooperação entre o Hamas e a Fatah «suscita preocupações», uma vez que o líder da Fatah confirmou que o seu movimento deixaria o Hamas trabalhar em Gaza, informou o Canal 7 israelita.
Rajoub tinha dito na conferência de imprensa que estava «confiante nas intenções do Hamas», observando que os palestinos têm estado à espera de que esta conferência seja o ponto de partida para a unidade nacional.
Durante os últimos meses, Netanyahu prometeu repetidamente anexar partes dos territórios palestinos, incluindo grandes extensões da já ocupada Cisjordânia e partes do estratégico Vale do Jordão.
A ideia ganhou força na sequência do anúncio pela administração Trump do chamado “Acordo do Século”, em 28 de Janeiro, que permite a Israel confiscar partes dos territórios palestinos ocupados, e concede aos palestinos um "Estado" sobre partes desconexas do que resta da Cisjordânia.
O Primeiro-Ministro israelita Benjamin Netanyahu tinha fixado o dia 1 de Julho como a data para o início da anexação, mas isto foi adiado aparentemente porque não foi possível chegar a acordo com os norte-americanos sobre o esforço.
De facto, o jornal digital palestino Al-Watan Voice noticiou, na quarta-feira, que uma equipa de funcionários norte-americanos tinha deixado Israel sem chegar a acordo sobre quando terá lugar a prevista anexação da Cisjordânia ocupada.
Liderada pelo Representante Especial dos EUA para o Médio Oriente, Avi Berkowitz, a equipa encontrou-se com o Primeiro Ministro israelita Benjamin Netanyahu, o Ministro dos Negócios Estrangeiros Gabi Ashkenazi, e o Primeiro Ministro Alternativo e Ministro da Defesa Benny Gantz num esforço para chegar a uma posição unida sobre o plano de anexação.
Netanyahu disse que as discussões do seu governo com os EUA sobre a anexação prosseguiriam «nos próximos dias».
Falando à Rádio do Exército, o Ministro da Cooperação Regional de Israel, Ofir Akunis, disse que a anexação «irá certamente acontecer em Julho», mas tem de ser feita em parceria com os EUA, acrescentando que «só irá acontecer após uma declaração de Trump».