Há 97 dias em greve da fome, Ahmad Zahran continua preso por Israel sem acusação

Israel continua a manter preso o palestino Ahmad Zahran, que está há quase 100 dias em greve de fome, sem o julgar nem deduzir acusação e com base em provas secretas.

A Comissão de Presos Palestinos afirma num comunicado publicado este sábado que Zahran, de 42 anos, está em greve de fome há 97 dias consecutivos, exigindo um julgamento justo ou a sua libertação da prisão, já que o tribunal militar israelita continua a adiar uma audiência de recurso contra a renovação da sua detenção administrativa por mais quatro meses.

Zahran iniciou esta greve de fome em protesto contra a sua detenção, privado do direito a defesa. É a segunda vez que realiza uma greve desde que foi preso, em Fevereiro; a primeira foi quando a ordem de detenção administrativa foi renovada, em Junho. Terminou essa sua primeira greve após 36 dias, quando lhe disseram que seria libertado em Outubro.

Quando se tornou claro que seria emitida uma terceira ordem de detenção administrativa — sem garantia de que não haveria uma quarta, uma quinta ou uma sexta — Ahmad Zahran retomou a greve de fome, que mantém até hoje.

Uma forma que o serviço prisional israelita utiliza para punir os grevistas de fome palestinos é privá-los de visitas familiares. E de facto Zahran foi visitado pela última vez pela esposa e por um dos filhos em meados de Agosto; a partir daí não pôde receber mais visitas da família.

Um advogado da Comissão Palestina para os Assuntos dos Detidos visita-o cerca de uma vez por semana na ala hospitalar da prisão de Ma'asiyahu, em Ramle. Anteriormente já o visitava no Hospital Kaplan, em Rehovot, para onde Zahran tinha sido conduzido de urgência após a deterioração do seu estado de saúde, e onde estava algemado à cama.

Segundo o advogado, Zahran tem dores em todo o corpo, particularmente dores de cabeça e dores nas articulações; perdeu 30 quilos e sente-se fraco mas não consegue dormir mais de duas horas seguidas. E desde o 45.º dia da greve de fome, precisa de uma cadeira de rodas porque não consegue andar.

Ahmad Zahran está preso há 10 meses, desde a madrugada de 28 de Fevereiro, quando dezenas de soldados invadiram a sua casa e o detiveram, sem o informarem das suspeitas que existiam contra ele, privando-o da presunção de inocência e do direito de se defender.

Durante os últimos 25 anos, Zahran foi julgado quatro vezes sob a acusação de ser membro da Frente Popular de Libertação da Palestina, sendo condenado de cada vez a vários anos de prisão, somando um total de cerca de 15 anos nos cárceres de Israel.

Nos últimos três meses, Israel prendeu dezenas de palestinos suspeitos de estarem ou terem estado ligados à FPLP, imediatamente colocados em prisão administrativa. Entre eles conta-se a dirigente da FPLP e ex-deputada Khalida Jarrar, bem como o escritor e professor universitário Ahmed Qatamesh, de 69 anos, que no total esteve preso mais de 10 anos sem julgamento nem o direito de se defender.

O grupo de apoio aos presos Addameer informou na semana passada que cerca de 40 dos detidos foram vítimas de métodos de interrogatório ilegais, ou seja, tortura. A censura proibiu a comunicação social israelita de noticiar a onda de prisões e as suspeitas de tortura durante os interrogatórios. A única excepção foi o caso de Samer Arbid, hospitalizado em finais de Setembro em estado crítico devido à brutal tortura a que foi sujeito.

O regime de detenção administrativa consiste na prisão de palestinos sem acusação nem julgamento, por ordem de um comandante militar israelita e com base em provas secretas. As ordens de detenção administratriva normalmente têm uma duração de seis meses, mas podem ser indefinidamente renováveis pelas autoridades militares de ocupação israelitas.

O Addameer contabiliza actualmente 460 palestinos em detenção administrativa, num total de cerca de 5000 presos palestinos nos cárceres israelitas.

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