Há 15 anos Israel lançou sobre Gaza a brutal «Operação Chumbo Fundido»

Em 27 de Dezembro de 2008, Israel lançou a «Operação Chumbo Fundido», um ataque militar maciço de 23 dias contra a Faixa de Gaza. O ataque, em que foram mortos cerca de 1400 palestinos, sendo mais de 300 menores, foi o mais brutal desde a Nakba até então. Investigações independentes provaram a prática de crimes de guerra por parte de Israel.

Na Cidade de Gaza, meia-hora antes do meio-dia de sábado, 27 de Dezembro de 2008, as crianças regressam da escola e as ruas estão repletas de pessoas. Poucos minutos mais tarde, mais de 230 estarão mortas e cerca de sete centenas estarão feridas. Israel acaba de desencadear o seu covarde ataque que baptiza de «Operação Chumbo Fundido».

Dezenas de caças F-16, helicópteros Apache e veículos aéreos não tripulados bombardeiam, em simultâneo, mais de uma centena de locais em toda a Faixa de Gaza. Nos dias seguintes, continuam os bombardeamentos maciços até 3 de Janeiro, data em que o exército israelita invadiu a Faixa de Gaza pelo norte e leste e a marinha bombardeou Gaza a partir da costa.

Em 18 de Janeiro de 2009, sob enorme pressão internacional e apenas dois dias antes da tomada de posse de Barack Obama como Presidente dos Estados Unidos, Israel declarou um cessar-fogo unilateral e retirou as suas forças de Gaza. Os grupos armados palestinos seguiram-se com um cessar-fogo unilateral separado.

Um rasto de morte e destruição

De acordo com as investigações de organizações independentes israelitas e palestinas de defesa dos direitos humanos, entre 1385 e 1419 palestinos foram mortos durante a operação Chumbo Fundido, a maioria dos quais civis, incluindo pelo menos 308 menores. Mais de 5000 palestinos ficaram feridos.

Segundo as autoridades israelitas, três civis israelitas e um soldado foram mortos por rockets disparados de Gaza durante a operação Chumbo Fundido. Nove soldados israelitas também morreram em combate em Gaza, incluindo quatro mortos por fogo amigo. De acordo com a ONU, 518 israelitas ficaram feridos.

Dados da ONU revelam que 3540 habitações foram completamente destruídas e outras 2870 sofreram danos graves. Mais de 20 000 pessoas – muitas delas já refugiadas, algumas duas ou três vezes mais – ficaram sem casa.

Após uma investigação sobre a destruição de infra-estruturas civis em Gaza, a Human Rights Watch acusou os militares israelitas de violarem a proibição internacional de "destruição arbitrária" prevista na Quarta Convenção de Genebra.

Israel destruiu infra-estruturas eléctricas, condutas e reservatórios de água, poços, redes de esgotos e estações de bombagem. Os bombardeamentos israelitas destruíram ou danificaram instalações da UNRWA, empresas privadas, fábricas e oficinas, escolas e jardins-de-infância. Foram igualmente destruídos numerosos edifícios governamentais palestinos, incluindo esquadras de polícia, a sede do Conselho Legislativo Palestino e parte do complexo do Presidente palestino Mahmoud Abbas.

Num discurso proferido no Centro Begin-Sadat de Assuntos Estratégicos da Universidade de Bar-Ilan, e Maio de 2011, o Major-General Yoav Galant comandante da «Operação Chumbo Fundido», afirmou que Gaza é uma "zona de treino ideal" para soldados e armamento, uma vez que não tem um inimigo forte que possa infligir baixas graves a Israel.

Os antecedentes

Seis meses antes da «Operação Chumbo Fundido», Israel tinha negociado um cessar-fogo com o Hamas e outros grupos armados palestinos em Gaza. Nos termos do acordo, que entrou em vigor em 19 de Junho de 2008, ambas as partes concordaram em cessar as hostilidades através da Linha Verde, a fronteira de facto entre Israel e a Faixa de Gaza. Apesar de uma série de violações por ambas as partes, a trégua foi largamente bem-sucedida.

De um modo geral, prevaleceu uma situação de relativa tranquilidade em Gaza e nas suas imediações até 4 de Novembro, data em que os soldados israelitas fizeram uma incursão na Faixa de Gaza, matando seis membros do Hamas. O ataque, que teve lugar na véspera das eleições presidenciais americanas, pôs termo ao cessar-fogo e conduziu a uma escalada das hostilidades que culminou no mês seguinte com a «Operação Chumbo Fundido».

Crimes de Guerra

Em Abril de 2009, no rescaldo da agressão israelita contra Gaza, o Conselho para os Direitos Humanos das Nações Unidas designou uma Missão de Averiguação ao Conflito de Gaza. Esta Missão foi chefiada pelo prestigiado juiz sul-africano Richard Goldstone, antigo juiz do Tribunal Constitucional da África do Sul e procurador dos crimes de guerra no Ruanda e na antiga Jugoslávia, pela advogada Hina Jilani, do Supremo Tribunal do Paquistão, pela professora Christine Chinkin, da London School of Economics and Political Science, e pelo coronel irlandês aposentado Desmond Travers, que integrou várias missões dos capacetes azuis no Líbano e na antiga Jugoslávia e é um especialista em direito humanitário internacional.

Os quatro membros da Missão visitaram Gaza no final de Maio e início de Junho de 2009. Israel recusou-se a cooperar com o inquérito, negando à missão a oportunidade de se encontrar com funcionários israelitas ou de visitar a Cisjordânia.

A Missão produziu um documento que ficou conhecido por “Relatório Goldstone", um documento de 575 páginas que descreve em pormenor os crimes de guerra e crimes contra a humanidade cometidos pelos militares israelitas. O relatório também acusava os grupos armados palestinos de crimes de guerra em resultado de ataques indiscriminados com foguetes contra civis israelitas que viviam perto de Gaza.

O “Relatório Goldstone” documentou 36 casos e incidentes específicos em que as forças israelitas alegadamente violaram as leis internacionais durante a ofensiva em Gaza. No incidente talvez mais infame da guerra, os soldados israelitas ordenaram que cerca de 100 membros da família Samouni entrassem num único edifício na zona de Zaytoun, na cidade de Gaza. Os soldados mantiveram a família no edifício durante 24 horas antes de bombardearem o edifício a 4 de Janeiro de 2009. Vinte e um membros da família, todos civis, foram mortos.

A missão da ONU e os grupos de defesa dos direitos humanos também documentaram vários casos em que testemunhas viram soldados israelitas matarem palestinos que fugiam transportando bandeiras brancas improvisadas para indicar o seu estatuto de civis.

Grupos de defesa dos direitos humanos, jornalistas e a missão da ONU em Gaza também documentaram numerosos casos de utilização de fósforo branco, uma substância incendiária que é ilegal quando utilizada em zonas povoadas. As forças israelitas utilizaram fósforo branco em ataques a pelo menos dois hospitais (Hospital Al-Quds e Hospital Al-Wafa), bem como ao complexo central da ONU na cidade de Gaza. Numerosas vítimas civis foram causadas pelo fósforo branco na pequena e densamente povoada Faixa de Gaza.

Para além do Relatório Goldstone, grupos de defesa dos direitos humanos como a Amnistia Internacional e a Human Rights Watch publicaram os seus próprios relatórios, documentando numerosas alegações de crimes de guerra cometidos pelas forças israelitas.

Ler também

Relatório da missão de investigação das Nações Unidas sobre o conflito de Gaza


Fonte principal: IMEU – Institute for Middle East Understanding, “Operation Cast Lead”

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