Guterres: Israel matou 78 crianças palestinas em 2021

O Secretário-Geral da ONU Antonio Guterres afirmou na passada segunda-feira, na apresentação do seu relatório anual Crianças e Conflitos Armados que as forças de ocupação israelitas mataram 78 crianças palestinas, mutilaram outras 982, e detiveram 637 em 2021.

«Estou chocado com o número de crianças mortas e mutiladas pelas forças israelitas durante as hostilidades, em ataques aéreos em áreas densamente povoadas e através da utilização de munições vivas durante as operações de aplicação da lei, e pela persistente falta de responsabilização por estas violações», diz Guterres no relatório, e prossegue:

«Exorto as autoridades israelitas a reverem e reforçarem os seus procedimentos para prevenir qualquer uso excessivo da força. Exorto ainda Israel a continuar a investigar cada caso em que foram utilizadas munições vivas, tal como exigido pelos procedimentos, e a procurar obter a responsabilização por violações contra crianças. Exorto Israel a proteger melhor as escolas.»

Entre as 637 crianças palestinas detidas neste período, 85 relataram maus-tratos e violações do devido processo por parte das forças israelitas, tendo 75 por cento relatado terem sofrido violência física.

«Estou preocupado com o aumento do número de crianças detidas por Israel e com os relatos de crianças sobre violência física exercida contra elas durante a detenção. Reitero o meu apelo a Israel para que cumpra as normas internacionais de justiça juvenil, incluindo a utilização da detenção como medida de último recurso e pelo mais curto período de tempo adequado, para que ponha fim à detenção administrativa de crianças, e para que previna qualquer violência e maus-tratos na detenção.», comentou o Secretário-Geral da ONU.

De acordo com o relatório deste ano, a ONU registou 2.934 violações graves contra 1.208 crianças palestinas e nove crianças israelitas nos Territórios Palestinos Ocupados e Israel.

Todas as 17 crianças vitimadas pelas forças israelitas na Cisjordânia ocupada, incluindo Jerusalém Oriental, foram mortas a tiro, utilizando munições vivas, principalmente durante as manifestações, assinala o relatório.

Na Faixa de Gaza sitiada, 69 crianças palestinas foram mortas, a maioria durante os 11 dias da campanha de bombardeamento por Israel, em Maio de 2021.

O relatório também refere que os foguetes palestinos disparados por grupos armados mataram duas crianças israelitas.

O relatório refere ainda a negação do acesso humanitário pelas forças israelitas em 1582 situações, na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental, em Gaza. Cerca de 38 por cento dos pedidos de autorização às autoridades israelitas para crianças poderem sair através da passagem de Erez para aceder a tratamento médico especializado fora de Gaza foram adiados ou negados, afectando 933 rapazes e 648 raparigas).

O relatório anual, que regista graves violações contra crianças em zonas de conflito em todo o mundo, gera por vezes controvérsia sobre quais as entidades que devem ser incluídas na sua "lista negra" no final de cada relatório.

«Durante anos, Guterres empregou um padrão duplo ao listar algumas partes na sua "lista negra" ao mesmo tempo que omitia outras que muitas vezes cometeram muito mais violações. Israel nunca apareceu na lista, embora a ONU tenha considerado as suas forças responsáveis por matar ou ferir mais de 7000 crianças palestinas desde 2015.» acusa Jo Becker, da Human Rights Watch.

«A "lista negra" é um importante mecanismo de responsabilização e inclui actualmente 57 forças armadas governamentais e grupos armados não estatais responsáveis por graves violações contra crianças em conflitos armados. As partes listadas podem ser sujeitas a sanções do Conselho de Segurança da ONU e, de acordo com as directrizes da ONU, só são retiradas da lista depois de assinarem e implementarem um plano de acção para pôr fim às suas violações. O processo funciona: até à data, 39 partes assinaram tais planos, com 12 a pôr termo às suas violações.», esclarece Becker.

Israel nunca fez parte da lista, mas Guterres advertiu: «Caso a situação se repita em 2022, sem uma melhoria significativa, Israel deverá ser incluído na lista».


Foto: Em Junho de 2021, uma exposição nas ruínas da casa da família As-Sekka, em Khan Younis, evocou as crianças mortas pelos bombardeamentos israelitas do mês anterior

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