Governo dos EUA ameaça fechar representação palestina em Washington

A administração estado-unidense ameaça fechar a representação diplomática palestina em Washington nos próximos meses, a menos que a Autoridade Palestina entre em negociações de paz «sérias» com Israel, informou a agência Associated Press na passada sexta-feira, 17 de Novembro.
A ameaça foi transmitida pelo Departamento de Estado dos EUA, que a relaciona com declarações do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas. Este, no seu discurso na Assembleia Geral da ONU em Setembro passado, exortou o Tribunal Penal Internacional a investigar e processar os responsáveis israelitas pela sua participação nas actividades de colonização e nas agressões contra o povo palestino.
Uma lei estado-unidense de 2015 estabelece que o secretário de Estado tem de certificar ao Congresso que a OLP não tomou medidas junto do TPI, e Rex Tillerson não o fez até o final de Novembro.
As reacções da parte palestina não tardaram. O ministro dos Negócios Estrangeiros da AP, Riyad Malki, declarou que a direcção palestina não aceitará qualquer chantagem ou pressão sobre o funcionamento da delegação da OLP em Washington ou sobre as negociações. Saeb Erekat, secretário-geral do Comité Executivo da OLP, declarou que se trata de uma «inaceitável» pressão exercida sobre a administração estado-unidense pelo governo israelita. Caso a representação da OLP seja fechada, acrescentou Erekat, a OLP «suspenderá todas as comunicações com esta administração estado-unidense».
Khalil al-Hayya, membro do Bureau Político do Hamas (Movimento Islâmico de Resistência) advertiu que a causa palestina enfrenta um perigoso projecto de liquidação, sublinhando que a melhor resposta palestina será anunciar eleições para o Conselho Nacional Palestino («parlamento da OLP) e para a direcção da OLP no prazo de três meses e realizar eleições gerais num prazo não superior a seis meses.
Em comunicado, a FPLP (Frente Popular para a Libertação da Palestina) considerou que se trata da reafirmação da política hostil dos EUA contra o povo palestino e os seus direitos nacionais, e também de uma expressão do apoio absoluto e contínuo a Israel, que exige posições claras da parte palestina e a conclusão do actual processo de reconciliação e unidade nacional.
Num desenvolvimento paralelo, o canal de televisão israelita Hadashot News TV noticiou um plano da administração Trump para a paz entre israelitas e palestinos. A notícia, baseada em fontes israelitas, e entretanto negada pela Casa Branca, afirma que o plano se baseará num Estado palestino independente ao lado de Israel, mas não necessariamente seguindo as linhas de 1967, por meio de «trocas de território». Além disso, não contemplaria a evacuação dos colonatos e teria em conta «a maior parte das exigências de segurança de Israel». Em troca a Autoridade Palestina receberia centenas de milhões de dólares de «ajuda» de países árabes sunitas (presumivelmente com a Arábia Saudita à cabeça).
Este plano, na sequência de outros apresentados no passado pelos Estados Unidos, significaria um «Estado» palestino despojado da maior parte do seu território, desarmado e submetido a uma constante vigilância e intrusão de Israel. Ou seja, um falso Estado, não soberano.
Estas notícias não estão desligadas de movimentações em curso em toda a região do Médio Oriente, nomeadamente na sequência da derrota, em boa parte consumada, da agressão à Síria. Nos últimos tempos multiplicaram-se os contactos entre os Estados Unidos e a Arábia Saudita — que foi o primeiro país estrangeiro visitado pelo presidente Trump —, e têm também vindo a lume contactos cada vez mais abertos entre Israel e a Arábia Saudita, no quadro de uma feroz hostilidade ao reforço do papel na região do Irão e de forças de resistência e anti-sionistas como o Hezbollah libanês.
Não podendo ignorar a centralidade da questão palestina para os respectivos povos, certos regimes árabes tentam forçar uma «solução» rápida desta questão, tendo em vista remover um obstáculo à colaboração aberta com Israel, com a bênção dos Estados Unidos.
Ainda recentemente Jared Kushner, genro e conselheiro político do presidente Trump, esteve na Arábia Saudita em conversações secretas com o príncipe herdeiro, Mohamed bin Salman. Poucos dias depois, em 4 de Novembro, o primeiro-ministro libanês, Saad Hariri, apresentou a sua demissão pela televisão a partir da Arábia Saudita, lançando acusações ao Irão e ao Hezbollah.
E logo a 6 de Novembro o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, chegou à Arábia Saudita (um dos principais financiadores da AP) para conversações com o príncipe herdeiro e o rei. Esta visita não programada, que vários observadores classificaram de «convocatória» do regime saudita, ocorreu num momento em que estão em curso conversações visando superar a divisão de mais uma década entre a Fatah de Mahmoud Abbas (que domina a AP) e o Hamas, conversações em que devem também participar outras facções palestinas.
Torna-se evidente que estão em curso fortes pressões visando forçar uma capitulação palestina em torno de uma falsa «solução» que não porá fim à ocupação israelita, aos colonatos, à repressão, e que não respeitará os legítimos direitos do povo palestino, nomeadamente o reconhecimento do direito ao regresso dos refugiados e o direito de constituir um Estado independente, soberano, contíguo e viável, com capital em Jerusalém Oriental.
 
Print Friendly, PDF & Email
Share