Fotojornalista de Gaza vence World Press Photo 2025

A fotojornalista palestina Samar Abu Elouf foi a vencedora absoluta da edição de 2025 do concurso World Press Photo com a fotografia de Mahmoud Ajjour, um menino de nove anos que sofreu amputação dos dois braços em consequência de um ataque israelita à cidade de Gaza em Março de 2024.

O menino: Mahmoud Ajjour

A narrativa que acompanha a fotografia diz-nos que, enquanto a sua família fugia de um ataque israelita, Mahmoud voltou atrás para incentivar os outros a seguirem em frente. Uma explosão cortou um dos seus braços e mutilou o outro. A família foi evacuada para o Catar, onde, após tratamento médico, Mahmoud está a aprender a usar os pés para jogar no telemóvel, escrever e abrir portas. Além disso, ele precisa de assistência especial para a maioria das actividades diárias, como comer e vestir-se. O sonho de Mahmoud é simples: ele quer obter próteses e viver a sua vida como qualquer outra criança.

A fotógrafa: Samar Abu Elouf 

Samar Abu Elouf é uma fotojornalista autodidacta de Gaza. Desde 2010, ela documenta a vida quotidiana, as notícias e os profundos efeitos do conflito no seu país. Já trabalhou com várias organizações internacionais, incluindo The New York Times, Reuters, NZZ e Middle East Eye.

Samar foi evacuada de Gaza em Dezembro de 2023 e mora no mesmo complexo de apartamentos que Mahmoud, em Doha, no Catar. 

Samar esteve em Portimão na estreia em Portugal da exposição World Press Photo 2025. Em entrevista ao jornal digital Sul Informação ela descreve a sua história de vida que se entrelaça com a sua paixão pela fotografia e com a tragédia que assombra Gaza.

Comentário do Júri

«A fotografia deste menino palestino fala dos custos a longo prazo da guerra, dos silêncios que perpetuam a violência e do papel do jornalismo em expor essas realidades. Sem se esquivar dos impactos físicos da guerra, a foto aborda o conflito e a falta de nacionalidade de um ângulo humano, lançando luz sobre os traumas físicos e psicológicos que os civis foram forçados a sofrer e continuarão a sofrer por meio de mortes e guerras em escala industrial. O júri considerou este retrato, com a sua composição forte e atenção à luz, contemplativo, suscitando questões sobre as experiências que ainda estão por vir para o jovem menino ferido, sobre a desumanização de uma região e sobre o ataque implacável a jornalistas em Gaza, juntamente com a contínua negação de acesso a repórteres internacionais que procuram expor as realidades desta guerra.»

A WPF sobre a guerra em Gaza

«As crianças são desproporcionalmente afectadas pela guerra. A Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina (UNWRA) estima que, em Dezembro de 2024, Gaza tinha mais crianças amputadas per capita do que qualquer outro lugar do mundo. Em Março de 2025, mais de 7.000 pacientes haviam sido evacuados de Gaza para tratamento médico, mas pelo menos 11.000 outros permaneceram lá aguardando evacuação, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Os evacuados foram levados para países como Egipto, Jordânia, Catar e Turquia.

Dezenas de milhares de outras pessoas foram mortas e mais de 100.000 ficaram feridas, de acordo com as autoridades de saúde do território. O sistema de saúde, dizimado durante a guerra, está mal equipado para cuidar delas: em Março de 2025, apenas 21 dos 36 hospitais de Gaza permaneciam parcialmente funcionais, de acordo com a OMS.»

Terça, 22 de Julho de 2025 - 16:51