Faro na rua pela Palestina
Ao fim da tarde desta sexta-feira, 4 de Julho, mais de duas centenas de pessoas convergiram para o espaço frente ao Fórum Algarve, em Faro, para reclamarem o fim do genocídio, o reconhecimento do Estado da Palestina, o fim do acordo de associação UE-Israel e a realização dos direitos nacionais do povo palestino, e condenarem a agressão ao Irão.
Este acto público de solidariedade com a Palestina e pelo fim do genocídio foi promovido por MDM, CPPC, CGTP-IN, MPPM e Projecto Ruído. Com apresentação de Tiago Jacinto da USAL, registaram-se intervenções de Leonor Agulhas (MDM), Catarina Marques (USAL), Isabel Camarinha (CPPC) e José Oliveira (MPPM).
Texto da intervenção de José Oliveira pelo MPPM
Boa tarde a todas e a todos.
Estamos no dia 637 da agressão israelita à Faixa de Gaza. Aquilo que se passa na Faixa de Gaza não é uma guerra, é um genocídio que marcará para sempre os nossos dias.
Desde o início desta agressão israelita, mais de 57 mil pessoas, pelo menos, foram assassinadas em Gaza pelas forças israelitas. Também a fome é utilizada como arma de guerra. Os soldados israelitas receberam ordens directas para disparar sobre as pessoas que tentam aproximar-se dos «centros de distribuição» de alimentos, como denunciou pelo jornal israelita Haaretz. É difícil imaginar mais diabólica crueldade: morrer à fome ou morrer sob as balas de Israel quando se vai procurar alguma comida. Só ontem, só ontem, mais 118 mortos.
Gaza foi ocupada por Israel em 1967 e já estava sob bloqueio desde 2007. A ONU dizia, na década passada, que em 2020 Gaza já não teria condições que permitissem a vida humana. Não, nada começou em 7 de Outubro.
Na Cisjordânia, os campos de refugiados Jenin, Tulkarm, Nur Shams foram praticamente arrasados, mais de 40.000 palestinos foram expulsos: a maior expulsão de população desde 1967. Os palestinos sofrem ataques diários de colonos armados e protegidos por soldados israelitas. Mais de mil foram mortos.
Não, nada começou em 7 de Outubro. O crime actual é «apenas» um episódio, decerto o mais mortífero, decerto o mais terrível, mas «apenas» o mais recente episódio do projecto sionista, nascido na Europa no início do século passado, e que não teria sido possível sem o apoio do imperialismo britânico e mais tarde estado-unidense. «A noiva é linda, mas já está casada com outro homem», disseram os dirigentes sionistas. Ou seja: a Palestina era apetecível, mas o seu projecto colonial de ocupação teria de passar necessariamente pela expulsão do povo palestino. É isso que está em curso desde 1948 até hoje.
Mas as ambições de Israel ultrapassam as fronteiras da Palestina. Todos os seus vizinhos foram atacados, e continua a ocupar territórios da Síria e do Líbano. Israel é o único país do Médio Oriente que tem armas nucleares. A recente agressão ao Irão (que não tem armas nucleares) é mais uma prova de que Israel ameaça a paz não só no Médio Oriente mas em todo o mundo. E o ataque ao Irão seria impossível sem a cobertura dos Estados Unidos, como aliás confirmou a sua posterior participação directa.
O apoio dos Estados Unidos, da NATO e da União Europeia convertem-nos em verdadeiros co-autores dos crimes contra os povos do Médio Oriente e em particular contra o povo palestino. No dia em que Israel for julgado pelos seus crimes, eles terão de estar a seu lado no banco dos réus.
Caras amigas, caros amigos:
Está neste momento em negociação um novo cessar-fogo para Gaza; um novo, porque o último foi quebrado por Israel. É necessário que o cessar-fogo seja permanente, com a entrada irrestrita de ajuda humanitária e a retirada das tropas israelitas da Faixa de Gaza, bem como de todos os territórios palestinos ilegalmente ocupados.
As condições do cessar-fogo não podem ser decididas nas costas do povo palestino. O povo palestino tem o direito de decidir do seu próprio destino e ver reconhecidos os seus direitos nacionais imprescritíveis, com a criação de um Estado da Palestina livre, soberano e viável, nas fronteiras de 1967, com Jerusalém Oriental como capital, e o regresso dos refugiados, conforme determinam as resoluções da ONU.
Estamos aqui hoje para afirmar mais uma vez o nosso repúdio pelo genocídio e a nossa solidariedade com o povo palestino. Estamos aqui para exigir:
– O reconhecimento imediato do Estado da Palestina por Portugal;
– A suspensão da cooperação militar e de segurança com Israel;
– A suspensão do acordo de associação UE/Israel;
– O fim do massacre, o fim da ocupação.
Estamos aqui para lembrar que:
– O direito internacional existe e é para cumprir,
– As resoluções da ONU existem e são para cumprir,
– As decisões do Tribunal Internacional de Justiça existem e são para cumprir,
– A Constituição da República Portuguesa existe e é para cumprir.
Enquanto muitos, incluindo o governo português, escolhem fechar os olhos perante o genocídio e apoiar a política opressiva, violenta, belicista de Israel, nós, e milhões como nós pelo mundo fora, escolhemos o lado da justiça, da paz, dos direitos dos povos.
Enquanto eles pactuam com os crimes, nós gritamos:
PALESTINA VENCERÁ!