Família palestina expulsa de casa onde morava há 53 anos em Jerusalém Oriental ocupada, colonos israelitas instalam-se
Uma família palestina foi expulsa da casa onde morava há 53 anos no bairro de Sheikh Jarrah, em Jerusalém Oriental ocupada, na passada terça-feira, 5 de Setembro, após uma prolongada batalha jurídica em que as autoridades israelitas afirmaram que a propriedade pertence a colonos judeus.
A família Shamasna é a primeira família palestina a ser expulsa de Sheikh Jarrah desde 2009. A família, incluindo o idoso Ayyub Shamasna, de 84 anos, que vivia na casa desde 1964 e se encontra numa cadeira de rodas, e a sua esposa de 75 anos, foi expulsa à força por um grande número de agentes das forças repressivas israelitas ainda antes de poder carregar os seus móveis e outros pertences para um camião.
Decisões judiciais sucessivas deram razão aos colonos israelitas, que alegam que a casa pertencia a judeus antes de 1948. Segundo a lei de Israel, os israelitas podem reivindicar a posse de propriedades em Jerusalém Oriental com base no argumento de que elas eram propriedade de judeus antes de 1948. Porém, não existe uma lei semelhante para as centenas de milhares de palestinos que foram expulsos das suas casas e transformados em refugiados durante a vaga de limpeza étnica (a Nakba) que precedeu e acompanhou a criação do Estado de Israel em 1948. Muitos palestinos possuíam propriedade em Jerusalém Ocidental a que nunca puderam regressar.
A organização israelita Peace Now, que monitoriza os colonatos, condenou a expulsão e afirmou em comunicado: «Os colonos, com o apoio do governo, estão a utilizar uma lei discriminatória, a fim de mudar o status quo e israelizar os bairros palestinos de Jerusalém Oriental. O despejo da família Shamasna, que residia na casa desde 1964, não só é brutal como indica também uma tendência perigosa que pode ameaçar um compromisso futuro em Jerusalém.»
Por seu lado, o grupo de direitos humanos israelita Ir Amim informou que os colonos israelitas planeiam tomar o controlo de todo o bairro para em seguida o demolir e criar um grande colonato judaico, chamado Shimon Hatzadik.
Desde 1967, ano em que ocupou toda a cidade de Jerusalém, Israel vem realizando uma campanha sistemática com vista a alterar a composição demográfica de Jerusalém Oriental — aumenta exponencialmente o número de colonatos israelitas ilegais, onde residem actualmente mais de 200.000 colonos — com o propósito de completar a anexação de toda a cidade e impedir que Jerusalém Oriental se converta na capital de um futuro Estado palestino independente.
Na sexta-feira, 8 de Setembro, em protesto contra o despejo da família Shamasna mais de 200 israelitas desfilarem do centro de Jerusalém até Sheikh Jarrah. Entre os manifestantes encontravam-se os deputados Ayman Odeh e Yousef Jabareen, ambos da Lista Conjunta (coligação de partidos palestinos e da esquerda não sionista em Israel). À chegada ao bairro encontraram-se com dezenas de manifestantes palestinos locais. Dois manifestantes israelitas e dois palestinos foram presos pela polícia israelita.
Igualmente em protesto contra a expulsão, palestinos de Jerusalém Oriental ocupada realizaram as orações de sexta-feira diante da casa da família Shamasna. Além dos membros da família, participaram nas orações figuras religiosas e nacionais, incluindo o presidente da câmara palestino de Jerusalém.
Sábado, 9 Setembro, 2017 - 00:00