Faleceu Silas Cerqueira

Foi com profundo pesar que o MPPM- Movimento pelos Direitos dos Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente – tomou conhecimento do falecimento de Silas Coutinho Cerqueira, seu membro fundador, dirigente e grande impulsionador, ocorrido ontem. O seu velório terá lugar na Casa da Paz, sede do Conselho Português para a Paz e Cooperação, em Lisboa, na Rua Rodrigo da Fonseca, 56, 2º, entre as 17h e as 22h de Quarta-feira, 24 de Agosto e as 10h e as 16h de Quinta-feira, 25 de Agosto. O seu funeral terá lugar no cemitério do Alto de São João, na Quinta-feira, a partir das 17h00.
Combatente incansável da luta pela paz, Silas Cerqueira dedicou a sua vida à causa da paz e da cooperação, da solidariedade entre os povos e da luta contra o racismo, o colonialismo, o apartheid e todas as formas de discriminação e exploração. Lutador antifascista destacado, preso em diversas ocasiões pela polícia da ditadura, personalidade de renome e prestígio internacional, Silas Cerqueira deixa o seu nome ligado às mais importantes iniciativas e movimentos de opinião pública promovidos em Portugal, antes e depois do 25 de Abril, relacionados com a luta pela paz e a solidariedade entre os povos. De entre as muitas e variadas lutas em que se envolveu, Silas Cerqueira sentia, com especial intensidade, o drama do povo palestino e a constante ameaça para a paz que constituía a situação no Médio Oriente, a qual conhecia profundamente em resultado das suas muitas visitas à região.
Foi o grande obreiro da realização, em Lisboa, em Novembro de 1979, da Conferência Mundial de Solidariedade com o Povo Árabe e a sua Causa Central: a Palestina. Promovida pelo Congresso do Povo Árabe e um comité internacional representativo da América do Norte e da América Latina, da Europa, África e Ásia, a Conferência foi organizada, no plano nacional, pelo Conselho Português para a Paz e a Cooperação, e contou com o apoio de um amplo leque de personalidades e associações democráticas, cívicas, humanitárias e religiosas. A presença, em Portugal, durante esses dias, do Presidente da OLP, Yasser Arafat – a sua primeira visita a um país da Europa Ocidental, durante a qual foi recebido pelo Chefe de Estado e o Primeiro-Ministro, então, respectivamente, General Ramalho Eanes e Engenheira Maria de Lurdes Pintassilgo – reforçou o alto significado deste acontecimento, que marcava, simbolicamente, o início do reconhecimento, na Europa Ocidental, da OLP e, em geral, da causa palestina.
Como polo agregador de vontades em defesa dos direitos do povo palestino, Silas Cerqueira promoveu, em Fevereiro de 2004 – nos dias em que se reunia sobre a questão o Tribunal Internacional de Justiça de Haia – o lançamento do abaixo-assinado “Não ao Muro de Sharon”, que recolheu adesões de um número significativo de individualidades representativas dos mais variados sectores da actividade portuguesa, o qual apresentou publicamente na reunião Internacional das Nações Unidas sobre «O impacte da construção do Muro no Território Palestino Ocupado, incluindo em Jerusalém e à sua volta» que decorreu em Genebra, em 15 e 16 de Abril de 2004.
Em Junho de 2005, lançou as bases da constituição do MPPM com o documento “Razões, Princípios e Objectivos da Constituição de um Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente”, que viria a ser subscrito por um leque significativo de individualidades, e fundamentava a necessidade de constituição de um movimento português para defesa dos direitos do povo palestino definindo, desde logo, o que deveriam ser as suas linhas de orientação.
A Comissão Instaladora, que integrava, criou as condições para que, 9 Agosto de 2007, o MPPM se constituísse como associação sem fins lucrativos.
Silas Cerqueira integrou sempre a Direcção Nacional do MPPM, onde desempenhou os cargos de Coordenador da Comissão Executiva e de Secretário para as Relações Internacionais.
A relação de amizade que mantinha com José Saramago, outro militante de longa data da causa palestina, permitiu que este aceitasse o convite para presidir à Assembleia Geral do MPPM, cargo que ocupou até ao seu falecimento.
Uma das características da personalidade de Silas Cerqueira era a sua capacidade para congregar vontades individuais em torno de causas comuns, ultrapassando divergências que poderiam manifestar-se em outras vertentes da vida pública. Assim se explica a pluralidade de adesões que conseguia nas iniciativas que liderava, bem como a diversidade de sensibilidades que reunia nas equipas que formava.
Também, no campo internacional, o MPPM beneficiou do prestígio internacional de Silas Cerqueira como militante destacado da causa da paz e da solidariedade com os povos. A sua acção foi decisiva para a acreditação do MPPM como Organização Não Governamental pelo Comité das Nações Unidas para o Exercício dos Direitos Inalienáveis do Povo Palestino, por Deliberação de 17 de Setembro de 2009. Foi, também, por influência sua, que foi possível trazer a Portugal, para participarem em iniciativas do MPPM, figuras de prestígio internacional, como sucedeu em Junho de 2012 com uma delegação das Nações Unidas composta pelo Presidente do Comité das Nações Unidas para o Exercício dos Direitos Inalienáveis do Povo Palestino, Embaixador Abdou Salam Diallo, Embaixador do Senegal na ONU, e pelo Embaixador Riyad Mansour, Observador Permanente da Palestina na ONU, que participou no Seminário Internacional “A Questão Palestina e a Paz no Médio Oriente”.
Ao longo dos anos, Silas Cerqueira imprimiu ao MPPM a sua marca de lutador ousado e inquebrantável. Nesta data de pesar, apresentamos à sua família as nossas sentidas condolências e afirmamos o nosso compromisso solene de honrar a sua memória dando continuidade à sua luta até que se estabeleça uma paz justa no Médio Oriente e o povo palestino viva em liberdade no seu Estado independente, tendo Jerusalém Leste como capital.
Lisboa, 23 de Agosto de 2016
A Direcção Nacional do MPPM

Print Friendly, PDF & Email
Share