Faleceu Abdullah Hourani, infatigável defensor dos direitos do povo palestino e amigo de Portugal
Abdullah Hourani faleceu, ontem, na Jordânia, segundo informa a Agência Noticiosa Ma'an. O Conselho Executivo da OLP anunciou o seu falecimento numa declaração em que o recorda como um dirigente leal da luta palestina e co-fundador da revolução Palestina contemporânea. "As suas vastas actividades nacionais e patrióticas contribuíram para proteger a identidade palestina".
Abdullah Hourani esteve em Lisboa em 1979, durante o período que antecedeu a grande Conferência Mundial de Solidariedade com o Povo Árabe e a sua Causa Central - a Palestina, a colaborar no trabalho preparatório. Teve a coragem política de ser a única personalidade árabe que se pronunciou, nas condições da época, pela existência de dois estados: Israel e Palestina.
Esteve, de novo, em Portugal, a convite da comissão instaladora do MPPM (Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente), entre 27 de Maio e 1 de Junho de 2006. A sua visita foi seminal para o MPPM, por ter ocorrido numa altura em que o movimento se estruturava e criava as suas bases de apoio junto da opinião pública nacional. Foi, também, muito importante para a causa palestina por ter sido acompanhada de entrevistas com figuras de relevo da vida política e sindical, bem como pela sua participação em sessões públicas de esclarecimento sobre a situação na Palestina.
Durante a sua estada em Portugal, Abdullah Hourani foi recebido pelo Vice-Presidente da Assembleia da República, Manuel Alegre; pelos Presidentes e vereadores das Câmaras Municipais de Lisboa, Beja, Serpa e Almada; pelo Presidente do PS, Almeida Santos, e pelo Secretário Geral do PCP, Jerónimo de Sousa; pelos Grupos Parlamentares do PS, do PCP e do BE; e pelas Direcções da CGTP-IN e da UGT. Participou em sessões públicas em Serpa e Almada, bem como num encontro com individualidades ligadas à constituição do MPPM.
Silas Cerqueira, Secretário para as Relações Internacionais do MPPM, dá o seu testemunho pessoal sobre Hourani: "Conheci Abdullah Hourani durante mais de 30 anos e com ele trabalhei no plano político e convivi. Aprendi muito com ele e aprendi a respeitar as suas raras qualidades de coragem, integridade e inteligência políticas. Por isso se separou de Yasser Arafat, sem se zangar mas recusando as suas ofertas insistentes, quando este enveredou pelos Acordos de Oslo, uma armadilha preparada pela social-democracia europeia e cujos trágicos resultados para o povo palestino, e o próprio Arafat, se vêem hoje. No plano humano Abdullah era uma personalidade de cultura e gentileza, um homem bom. Gostava do Portugal do 25 de Abril e dos portugueses. Pensava que cá voltaria. Sentiremos a sua falta."
Abdullah Hourani nascera em 1938 em Al-Masmiyya, na Palestina.
Licenciado em Literatura Árabe, interessava-se por temas nacionais pan-árabes, tendo vasta e diversificada obra nesse domínio, entre escritos, discursos, palestras e publicações.
Foi Presidente da Comissão Política do Conselho Nacional Palestino (o Parlamento da Palestina) e membro do Conselho Central Palestino.
Considerado um dos maiores especialistas nas questões de Refugiados, foi acérrimo defensor do seu Direito ao Regresso e mobilizou e recrutou os palestinos para a defesa desse direito. Foi por sua iniciativa que se colocou a questão do estabelecimento da Assembleia Palestina para a Defesa do Direito ao Regresso, causa que tinha vindo a merecer uma atenção crescente por parte de todos os defensores do regresso dos refugiados. Era Coordenador Geral dessa Assembleia.
Foi, ainda, Presidente do Centro Nacional de Estudos e Documentação, em Gaza, Palestina
Em consequência do seu envolvimento, em meados da década de 50, na luta contra a instalação dos refugiados no Sinai (Egipto) e contra a ocupação pelos israelitas, em 1956, da Faixa de Gaza, foi preso por breve período.
Trabalhou como professor e, em seguida, como director de uma escola no Campo de Refugiados de Khan-Younis, que ficou amplamente conhecida por Escola Hourani pela importância das suas actividades no plano nacional).
Expulso da Faixa de Gaza, pelas autoridades israelitas, em 1963, devido à sua actividade política, voltou a trabalhar no sector da educação, desta vez no Dubai - então sob mandato britânico - por um período de dois anos - 1963 a 1965 -a que se seguiu nova expulsão.
Na Síria: dirigiu "O Apelo da Palestina" na rádio Síria. Foi nomeado, sucessivamente, para director da Agência Síria para a Rádio e a Televisão e, posteriormente, para Director Geral do Instituto dos Meios de Comunicação.
Em 1966 (ou 1969?) aderiu à OLP e tornou-se membro, tanto do seu Conselho Central como do Conselho Nacional Palestino.
Em 1973 foi nomeado Director Geral do Departamento de Informação e Orientação Nacional.
Entre 1984 e 1996 foi membro do Comité Executivo da OLP.
Foi fundador e Director do Departamento Cultural da OLP, o qual superintendia a todas as actividades culturais palestinas.
Foi Vice-Presidente do Conselho Mundial da Paz e Vice-Presidente da Organização de Solidariedade dos Povos Afro-Asiáticos (OSPAA, Cairo).
Em consequência da sua oposição aos Acordos de Oslo entre a OLP e Israel saiu do Comité Executivo da OLP, mas não abandonou a actividade política, tendo permanecido como Presidente da Comissão Política do Conselho Nacional Palestino e como membro do Conselho Central Palestino.
O MPPM, que lamenta a perda de um amigo e de um valoroso combatente pelos direitos do povo palestino, enviou a seguinte mensagem ao Comité Executivo da OLP:
"Caros Amigos
Com grande pesar tomámos conhecimento da tristíssima notícia do falecimento prematuro do dirigente palestino Abdullah Hourani que muito respeitávamos, em especial desde o seu papel em Lisboa em 1979. Então, ele ajudou, de uma forma íntegra, a preparar a grande Conferência Mundial de Solidariedade com o Povo Árabe e a sua Causa Central - a Palestina. Tornou-se um muito querido amigo nosso, bem conhecido do Movimento de Solidariedade em Portugal. Recentemente, em 2006, ele visitou de novo o nosso país e o nosso Movimento. Ao longo de todos estes anos, aprendemos a admirá-lo como um líder com sabedoria, coragem e integridade política, que recusava todos os falsos processos de Paz enquanto a ocupação criminosa por Israel continuasse. Mantendo boas relações com todos os sectores palestinos, ele manteve-se fiel aos princípios da revolução palestina, da unidade do povo palestino em Gaza, na Cisjordânia e em Jerusalém, e da libertação da Palestina. Ele viverá na nossa memória e o seu exemplo incita o nosso Movimento a intensificar a sua acção pela causa justa da Palestina.
Pelo Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente
Silas Cerqueira
Secretário para as Relações Internacionais"
Terça, 30 Novembro, 2010 - 00:00