Exército israelita abate a tiro jovem palestino em manifestação pacífica
Ali Ayman Abu-Alayya, de 13 anos de idade, sucumbiu aos ferimentos que sofreu depois de ter sido atingido com fogo real pelas forças de ocupação israelitas.
Ali participava numa manifestação não violenta dos habitantes da aldeia de al-Mughayir, a nordeste de Ramala, quando foi baleado por soldados israelitas. Foi transportado de urgência para o Complexo Médico Palestino em Ramala, mas não foi possível salvar-lhe a vida.
O presidente da câmara de al-Mughayyir, Amin Abu-Alya, disse que uma força militar israelita dispersou violentamente os participantes da manifestação que apelava à defesa da área de Ras al-Tin contra a expropriação para dar lugar à construção de um novo posto avançado israelita.
Os soldados abriram fogo contra os participantes quando estes chegaram à entrada oriental de al-Mughayyir a caminho da área de Ras al-Tin, que faz parte da aldeia vizinha de Kafr Malik, atingindo Ali Ayman Abu-Alayya com uma bala real no abdómen e quatro outros participantes com balas de aço revestidas de borracha.
Os colonos israelitas iniciaram recentemente a construção de um novo posto avançado na área de Ras al-Tin, e impediram os aldeões e pastores de chegar à área.
Os ocupantes israelitas estão também a tentar demolir a escola local, que foi construída com financiamento da União Europeia, como preparação para forçar a comunidade beduína palestina a sair desta área.
Os incidentes em al-Mughayyir não podem ser dissociados da estratégia israelita de anexação do fértil Vale do Jordão. [Veja, a propósito, o artigo «Israel está já a preparar no terreno a anexação do Vale do Jordão»]
Reacções
O Coordenador Especial da ONU para o Processo de Paz no Médio Oriente, Nickolay Mladenov, disse no Twiter que estava horrorizado com o assassinato de Abu Alayya, e exigiu que «Israel investigue rápida e independentemente este incidente chocante e inaceitável». Mladenov salientou que as crianças gozam de protecção especial ao abrigo do direito internacional e devem ser protegidas da violência.
A Delegação da União Europeia para a Palestina apelou hoje a uma investigação sobre o assassinato de Ali Abu Alayya. «As crianças gozam de protecção especial ao abrigo do direito internacional», disse a delegação no Twitter. «Quantas mais crianças palestinas estarão sujeitas ao uso excessivo da força letal pelas forças de segurança israelitas?». A delegação da UE disse que este «incidente chocante deve ser rápida e cabalmente investigado pelas autoridades israelitas, a fim de levar os perpetradores à justiça».
A Presidência do Estado da Palestina condenou o assassinato a sangue-frio de Ali Ayman Abu-Alayya, descrevendo-o como o mais recente episódio dos crimes de Israel contra o povo palestino, e apelou à comunidade internacional para dar protecção ao povo palestino, pôr termo à ocupação e ajudar os Palestinos a estabelecerem o seu Estado independente com Jerusalém Oriental como sua capital.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros e Expatriados da Palestina disse ontem que irá processar o Estado ocupante de Israel perante o Tribunal Penal Internacional pela morte de Ali Ayman Abul-Alayya. Considerou o governo israelita de Benjamin Netanyahu total e directamente responsável pelo crime, no que disse ser uma consequência das instruções da liderança política do Estado ocupante às suas forças que lhes facilita disparar contra cidadãos palestinos sem serem punidos.
O porta-voz do Fatah, Osama Qawasmi, afirmou numa declaração que o assassinato de Ali Abu Alayya é um «crime de guerra» e «um reflexo inequívoco da mentalidade da criminosa ocupação israelita, que exorta ao sangue palestino, não excluindo as crianças do seu comportamento criminoso e assassino».
Outras manifestações não violentas
Dezenas de manifestantes palestinos foram feridos ontem quando as forças de ocupação israelitas atacaram dois protestos não violentos contra os colonatos israelitas, que tiveram lugar na cidade de Salfit e na aldeia de Kafr Qaddum na Cisjordânia ocupada.
Os soldados dispararam munições revestidas de borracha e granadas atordoantes contra palestinos que se manifestavam na área de Al-Ras, perto da cidade de Salfit, em protesto contra o plano de Israel de confiscar grandes extensões de terras palestinas para instalação de colonatos.
Os soldados israelitas também dispararam munições revestidas de borracha e granadas de gás lacrimogéneo contra os os habitantes da aldeia de Kafr Qaddum, perto da cidade de Qalqiliya, que se manifestavam pacificamente contra os colonatos israelitas, causando muitos casos de asfixia por inalação de gás.
Há muito tempo que os Palestinos realizam protestos não violentos em toda a Cisjordânia ocupada, para manifestar a sua preocupação com as crescentes actividades dos colonatos israelitas, traduzidas na apropriação de terras palestinas, no roubo e vandalização de infra-estruturas, na destruição e saque de colheitas. Quase sempre as manifestações são violentamente reprimidas pelo exército israelita.
Para saber mais
Para ajudar a contextualizar estas notícias, sugerimos que veja estes dois vídeos do MPPM, da série «O Essencial sobre a Questão Palestina»: Os Colonatos e O Muro do Apartheid.
Para compreender as razões da tensão entre os habitantes das aldeias palestinas e os dos colonatos vizinhos, recomendamos que veja o excelente filme de Jan Beddegenoodts Thank God It’s Friday de que apresentamos aqui uma sinopse.