Evocando Silas Cerqueira no 5º aniversário do seu falecimento
Silas Cerqueira faleceu em 22 de Agosto de 2016, mas a sua obra, o seu exemplo, e a sua firme determinação estão vivos nos activistas e nas organizações que, em Portugal, continuam a pugnar pela causa da Paz, em geral, e pelos direitos do Povo Palestino, em particular.
Na data, o MPPM assinalou o falecimento de Silas Cerqueira com um Comunicado em que recordava a sua militância pelas causas da paz e da solidariedade com os povos em luta pela sua emancipação.
Numa singela homenagem que o MPPM lhe prestou no dia 29 de Novembro de 2016, a anteceder a sessão comemorativa do Dia Internacional de Solidariedade com o Povo Palestino, foi apresentado o vídeo Silas Cerqueira (1929-2016) - Vida e Obra que traça uma síntese, necessariamente breve, do que foi a sua actividade, das grandes iniciativas que dinamizou e do papel influente que teve na acção do MPPM.
Nesse vídeo, traços da personalidade de Silas Cerqueira são esboçados por cinco individualidades que com ele conviveram, de que aqui trazemos extractos. Os testemunhos podem ser lidos na íntegra na página do MPPM.
«Silas Cerqueira percebeu que haveria sempre pontos de convergência e de divergência. A colaboração teria pela frente um vasto campo para se exercer, como aconteceu, sobretudo nos empenhamentos pelas causas da paz.» [Frei Bento Domingues O.P.]
«Na minha opinião, Silas Cerqueira, destacada personalidade das lutas pela Paz, foi - creio não exagerar - uma das melhores cabeças políticas de Portugal nos últimos cinquenta anos.» [Miguel Urbano Rodrigues]
«Silas Cerqueira foi e, na memória de um grande número de pessoas, em Portugal e noutros países, continuará a ser, um homem grande, com a alma à dimensão do mundo.» [Isabel Allegro de Magalhães]
«(…) numa primeira impressão fica-se com a imagem de alguém com quem não seria fácil dialogar: percepção errada, pois Silas era um homem de diálogo, convívio e debate pelas suas convicções.» [José Neves]
«(…) O Silas era um homem culto, exaustivamente informado sobre os problemas a que se dedicava para agir em conformidade. Com verdade e isenção.» [Vasco Pinto Leite]
A lucidez e pertinência do pensamento de Silas Cerqueira são ilustrados com extractos de gravações de intervenções suas. Confirme-se a actualidade gritante de apontamentos como estes:
«O Afeganistão continua [em guerra]. Quer isso dizer que quando nos opomos a essas guerras, estamos de acordo com os princípios que os resistentes querem impor no Afeganistão? Não estamos. Mas o nosso problema não é esse. O nosso problema é que, de acordo com os princípios da Nações Unidas e de acordo com os princípios da Constituição da República Portuguesa, nós opomo-nos a guerras de invasão, de opressão, de destruição.»
«Se analisarmos o que se passou [em Gaza em 2009], vê-se claro que não teve absolutamente nada a ver com os morteiros artesanais mandados de Gaza. Pode-se discutir se foi politicamente oportuno, isso é outra questão. Pode-se discutir isso, mas é evidente que o princípio da resistência é sagrado e resistir à opressão, ao colonialismo e ao fascismo é já uma conquista de liberdade e uma conquista de liberdade da parte das forças e dos povos que resistem.»
«Israel como povo não é o inimigo. Mas como colonialismo, como opressor, como agressor, agressor de não sei quantas guerras, sim é. E mais, põe em perigo o seu próprio povo! Os interesses que Israel defende com a sua política agressiva, põem em perigo o seu próprio povo.»
«Até quando é que isto pode durar? [a imunidade de Israel] Quanto tempo? É altamente perigoso porque pode conduzir a situações ainda mais catastróficas, a guerras ainda mais catastróficas, incluindo com o manejo de armas nucleares, armas nucleares de que Israel é a quarta potência mundial - a única potência com armas nucleares no Médio Oriente.»
«Não podemos deixar, como escrevia aquele jornalista famoso, Robert Fisk, (…) que o assassinato deliberado de centenas de crianças e mulheres, de civis, (…) seja uma notícia que se dá e que fique, por assim dizer, banalizada. Não, não pode ser! É um imperativo ético, no plano da consciência moral da humanidade. É um imperativo ético, porque esses crimes horrorosos são crimes estudados, (…) são crimes planeados de longa data, com um só objectivo que é o de espalhar o terror e fazer com que os palestinos fujam de Gaza e fujam da Cisjordânia, para Israel ocupar.»
«Como é que o colonialismo israelita pode vir a terminar? (…) Por um lado, pela resistência, por outro lado pela negociação. E é lamentável que se vejam diferentes destacamentos palestinos, uns na posição de resistência, outros na posição da negociação, que neste caso pode significar quase uma rendição. Havia um dirigente, que combinava a resistência com a negociação, esse dirigente era Yasser Arafat, mas foi assassinado e não é por acaso.»
Foto: Silas Cerqueira com Yasser Arafat na Conferência Mundial de Solidariedade com o Povo Árabe e a sua Causa Central: a Palestina, Lisboa, 2 a 6 de Novembro de 1979