Escolasticídio em Gaza: Como Israel quer matar o futuro da Palestina

Está a começar o ano escolar em Portugal, mas não em Gaza. Desde que, em 6 de Novembro passado, na sequência do ataque israelita, as autoridades de Gaza foram forçadas a suspender o ano escolar, não mais os 625.000 jovens e crianças do território voltaram à escola. Entretanto Israel assassina alunos, professores e funcionários, e arrasa escolas comprometendo a educação de toda uma geração.

Desde que, em 7 de Outubro de 2023, Israel iniciou uma brutal agressão militar contra a Faixa de Gaza com o pretexto de silenciar a resistência palestina, foram mortos mais de 40.000 palestinos, dos quais 15.000 seriam crianças. As crianças são também uma larga parte dos mais de 90.000 feridos e dos incontáveis desaparecidos, certamente soterrados nos escombros dos edifícios.

As instalações escolares são particularmente visadas por Israel que alega que albergariam resistentes palestinos. Uma afirmação que não se coaduna com o facto de muitas das vítimas serem crianças e que não pode ser validada porque Israel recusa a presença de comissões de inquérito independentes. Escolas e hospitais têm servido de abrigo temporário para a maioria dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza que Israel mantém em permanente deslocação forçada.

É um escolasticídio, diz a ONU

Em Abril passado, os peritos da ONU manifestaram a sua grande preocupação com o padrão de ataques a escolas, universidades, professores e estudantes na Faixa de Gaza, lançando um sério alarme sobre a destruição sistémica do sistema educativo palestino.

«Com mais de 80% das escolas em Gaza danificadas ou destruídas, pode ser razoável perguntar se existe um esforço intencional para destruir de forma abrangente o sistema educativo palestino, uma acção conhecida como “escolasticídio”», disseram os peritos.

Escolasticídio é definido como a «obliteração sistémica da educação através da prisão, detenção ou assassinato de professores, estudantes e funcionários, e da destruição das infra-estruturas educativas.»

Todas as 12 universidades de Gaza foram bombardeadas e total ou parcialmente destruídas. 85% das escolas requerem reconstrução total ou parcial. Quase 10.000 estudantes e mais de 400 profissionais de ensino, incluindo pelo menos 95 professores universitários foram mortos.

A educação, o grande património dos Palestinos

Israel rouba-lhes as terras, derruba-lhes as casas, destrói-lhes as colheitas, coarcta-lhes a liberdade, nega-lhes uma pátria. Por isso, os Palestinos apostaram tudo na educação dos seus filhos, um património que não lhes podia ser roubado. Até agora.

Segundo o Gabinete Central de Estatística Palestino, a taxa de literacia em 2022 era de 98,2% na Faixa de Gaza e de 97,8% em toda a Palestina. De acordo com a mesma fonte, em 2017 frequentavam a escola 98,1% das crianças entre 6 e 11 anos, 97,0% dos 12 aos 14 anos e 84,3% dos 15 aos 17 anos.

No ano lectivo 2021-2022, frequentavam o ensino superior 225.975 estudantes, sendo 62% do género feminino. No outro extremo, em 2022-2023, 169.671 crianças frequentavam os 2198 jardins de infância.

Para os Palestinos, a educação é uma forma de resistência. As crianças vão à escola ainda que tenham de passar horas nos check-points. Nas comunidades beduínas, as escolas que Israel destrói são reconstruídas dezenas, centenas de vezes. Na educação fortalece-se o sentimento nacional do povo palestino. É isso que Israel não pode tolerar. Por isso arrasa escolas e universidades e chacina professores e alunos.

Mas os Palestinos não vão desistir. Assegura-o o poeta Tawfiq Zayyad: «Se tivermos sede / Espremeremos as rochas / Se tivermos fome / Comeremos a terra / Mas nunca partiremos. / O nosso sangue é puro / Mas não o pouparemos. / Aqui temos o nosso passado / O nosso presente / E o nosso futuro / O nosso futuro está atrás de nós.»

Os Palestinos não estão sós

Os Palestinos contam com a solidariedade internacionalista dos povos expressada em incontáveis manifestações por todo o mundo. Mas é preciso mais.

É preciso denunciar todas as formas de cooperação com o governo genocida de Israel.

É preciso suspender os programas europeus de financiamento de projectos que Israel desvia para alimentar a sua máquina de guerra.

É preciso cortar os laços com as universidades israelitas instaladas em colonatos ou envolvidas em projectos militares.

É preciso pôr fim a transacções de material militar com Israel.

É preciso que cada pessoa se informe e se abstenha de contribuir para a economia de guerra de Israel ao adquirir produtos israelitas ou de empresas que beneficiam economicamente do sistema de colonização e de apartheid israelita.


Foto: Rescaldo de um mortífero ataque aéreo israelita a uma escola gerida pelas Nações Unidas no centro de Gaza, a 6 de Junho de 2024 (CNN)

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