Documento secreto de 1970 revela que Israel invocou falsos motivos militares para construir primeiros colonatos
Um documento secreto de 1970 revelado na quinta-feira passada pelo diário israelita Haaretz evidencia que um dos primeiros colonatos israelitas na Margem Ocidental foi construído invocando motivos falsos, de modo a contornar o direito internacional.
As actas de uma reunião realizada no gabinete de Moshe Dayan, então ministro da Defesa, mostra que políticos, altos funcionários e dirigentes militares discutiram planos para Kiryat Arba, nos subúrbios de Hebron. O documento, intitulado «O método para fundar Kiryat Arba», descrevia o modo como seriam construídas 250 casas para famílias judias em terra confiscada por ordem militar para «finalidades de segurança» e que alegadamente seria para uso das forças armadas.
Dias depois de a base 14 ter «completado as suas actividades», prosseguia o documento, «o comandante do distrito de Hebron convocará o presidente da câmara de Hebron e, ao mesmo tempo que levanta outras questões, informá-lo-á de que começámos a construir casas na base militar em preparação para o Inverno».
Ou seja, os participantes na reunião concordaram em enganar o presidente da câmara, induzindo-o a pensar que as casas tinham finalidades militares, quando na realidade se destinavam a acolher os primeiros colonos a chegar a Hebron, que na Passover (páscoa judaica) de 1968 se instalaram no Park Hotel, o embrião do projecto do colonato.
A construção começou rapidamente após a reunião no gabinete de Dayan, e os residentes começaram a instalar-se em 1971. Kiryat Arba expandiu-se continuamente, tendo hoje uma população de quase 8000 pessoas.
O sistema da confiscação de terras por ordem militar com o objectivo de criar colonatos era um segredo de polichinelo em Israel nos anos 1970. Procurava-se deste modo uma aparência de respeito pelo direito internacional, que proíbe a construção para fins civis em terra ocupada.
O processo usado para construir Kiryat Arba foi repetido diversas vezes noutros lugares da Margem Ocidental, até ser proibido pelo Supremo Tribunal de Justiça de Israel em 1979.
No entanto, a construção de colonatos prosseguiu na Margem Ocidental e em Jerusalém Oriental ocupados, sobretudo após os Acordos de Oslo, apesar de considerados ilegais pelo direito internacional e condenados pela ONU e pelo Tribunal Internacional de Justiça.
O governo israelita anunciou recentemente novos planos para a construção de mais de 1000 novas casas, provocando uma condenação generalizada, da OLP e da Autoridade Palestina, e também da ONU, da União Europeia, da Rússia, dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, entre outros.
Quarta, 3 Agosto, 2016 - 10:13