Debate: Ilustração também é resistência

Integrado no evento Arte pela Palestina, o MPPM promoveu um debate sobre a forma como os ilustradores podem intervir com o seu trabalho na defesa de causas como a do povo palestino. Na tarde de quinta-feira 15 de Maio, na Casa do Comum, em Lisboa, o debate reuniu os ilustradores Alexandre Esgaio, André Ruivo e Catarina Sobral, que estiveram à conversa com Carlos Almeida, do MPPM.

Este evento ocorre em paralelo com a exposição «Ilustradores pela Paz na Palestina» que reúne o trabalho de 24 ilustradores portugueses ou vivendo em Portugal e que responderam ao desafio para exprimirem através da imagem a forma como sentem o que se está a passar na Palestina.

Ana Biscaia, também ilustradora e dirigente do MPPM, que dinamizou a iniciativa, esteve ausente por motivos de saúde mas enviou uma mensagem que é, em certa medida, um manifesto em nome dos vinte e quatro artistas e que reproduzimos no final desta nota.

A conversa decorreu muito animada e com boa participação da assistência. Ficámos a saber quando e como cada um dos artistas presentes foi sensibilizado para a causa da Palestina. Conhecemos a forma mais espontânea ou mais elaborada como cada um reage à notícia do momento. Discutiram-se as vantagens e os inconvenientes das redes sociais sendo, no entanto, unanimemente reconhecido que o acesso aos meios de comunicação é extremamente difícil. 

Recebem mensagens de incentivo e consideram gratificante ver o seu trabalho partilhado.  São também alvo de mensagens de ódio mas, se ilustração também é resistência, têm de as encarar com uma coragem militante.

Texto da mensagem de Ana Biscaia:

1. Deixem-me falar aqui de Maisara Baroud , artista palestiniano, que no meio das bombas, dos rockets, dos escombros, vítima do maior crime infligido a toda a Humanidade, desenhou, sem hesitações, a capa e as páginas centrais do jornal "O Palhinhas", do qual faço parte. Corpos atacados, vivos, protegendo-se das setas venenosas e mortíferas. I am still alive, diz. Todos os dias desenha o mesmo motivo, repetidamente, todos os dias, homens, mulheres, crianças. 

2. É incompreensível a loucura (é incompreensível a chacina, televisionada, propagandeada, de centenas de milhares de seres humanos). É incompreensível o uso deliberado da fome como arma. É incompreensível o silêncio dos poderosos e a sua cumplicidade assassina. Todos sabemos que Gaza (como tão bem pensa Alexandra Lucas Coelho) está em toda a parte 

3. Pergunto-me qual será o papel da ignorância em tudo isto. Ou até: onde está a compaixão? 

Ao pé de Gaza, para Gaza, somos todos precisos e necessários. 

(Porque é que os Palestinianos são considerados animais, quando animais não são, são homens, mulheres, crianças, meninos, meninas que quando não morrem, e mesmo morrendo, não arredam pé e honram a memória dos avós, a memória da sua casa, do seu quintal, da sua árvore. 

Sabem que aquele é o seu país, o seu território, o seu coração. E por isso regressam, capazes, sempre. 

4. Ouço. Em Gaza, uma pediatra fala sobre o mutismo em crianças muito pequenas. Flageladas pela guerra, sofrem demais e danosamente. 

5. Gaza deveria ser o desígnio obrigatório da Humanidade. Mas não é. 

6. O fascismo levado até às últimas consequências. Os verdadeiros animais dizem: "entrar em Gaza com toda a força". Foi dito e foi visto. 

Esta noite, depois do anúncio, morreram mais de 80 Palestinos às mãos de Israel.

7. Falo em nome do colectivo: desenhamos para sobreviver, mas neste caso desenhamos para além disso. A palavra sobrevivência tem outro peso, outra medida. É uma maneira de estar no mundo, um acordar para o mundo, uma leitura e uma apropriação, uma voz, conjunta, contra a matança genocida que Israel impõe ao povo palestino.  Cada imagem é uma voz que se levanta, audível, porque uma ilustração diz, fala, comunica e é fruto do nosso tempo.

Estamos aqui disponíveis para a questão importante. Dêem aos Palestinianos o direito de viver no seu país em paz. Daqui não arredamos pé, e é com o fruto do nosso trabalho que o dizemos: nunca desumanizar o que é humano. NUNCA!

Os nossos nomes: 

André Ruivo
André Pereira
Mariana Rio
Catarina Sobral
Renata Bueno
Teresa Carvalho
Tiago Guerreiro
Sebastião Peixoto
Vladimiro Vale
Alexandre Esgaio
Ana Biscaia
Rachel Caiano
Paul Hardman
Marta Monteiro
Julio Dolbeth
Susa Monteiro
Eva Evita
Marta Nunes
Pedro Pousada
Mantraste
Arianna Vairo
Alexandra Ramires
Susana Matos

Sexta, 16 de Maio de 2025 - 15:57