Crimes de guerra e crimes contra a humanidade cometidos por Israel em Gaza, diz relatório da ONU
As forças armadas israelitas dispararam intencionalmente sobre civis durante os protestos da Grande Marcha do Retorno na Faixa de Gaza no ano passado, e podem ter cometido crimes de guerra e crimes contra a humanidade ao matar 189 palestinos e ferir mais de 6100, revela uma investigação da ONU divulgada nesta quinta-feira.
Os manifestantes palestinos «não representavam uma ameaça iminente de morte ou de ferimentos graves para outros quando foram mortos, nem estavam a participar directamente nas hostilidades», diz o relatório da comisssão de inquérito independente criada pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU, a quem o governo de Israel impediu o acesso à Faixa de Gaza.
O relatório cobre o período entre 30 de Março de 2018, data do início dos protestos, e 31 de Dezembro, baseando-se em 325 entrevistas e reuniões com vítimas, testemunhas, funcionários do governo e membros da sociedade civil de todos os lados e mais de 8000 documentos, incluindo registos médicos, vídeos, filmagens de drones e fotografias. Além do relatório, a comisssão publicou também um vídeo documentando alguns casos.
Os protestos foram «de natureza civil», afirma a comisssão, acrescentando que «estavam disponíveis alternativas menos letais e estavam em prática defesas substanciais, tornando o uso de força letal não necessário nem proporcional, e portanto inadmissível».
A comissão afirma que no período considerado foram mortos 189 palestinos, 183 dos quais foram mortos com munições reais. No dia 14 de Maio as forças sionistas mataram 60 manifestantes, o maior número de mortos num só dia em Gaza desde a agressão militar israelita de 2014.
«A Comissão encontrou fundamentos razoáveis para acreditar que atiradores especiais israelitas dispararam sobre jornalistas, profissionais de saúde, crianças e pessoas com deficiências», diz o relatório.
A comissão reportou também 6106 pessoas feridas por munições reais, incluindo 940 menores, 39 agentes de saúde e 39 jornalistas. Além disso, 3098 pessoas foram feridas por fragmentos de balas ou outros estilhaços, ou foram atingidas directamente por bombas de gás lacrimogéneo ou balas de borracha.
Segundo a comissão, o exército israelita tem regras não reveladas no sentido de visar as pernas dos manifestantes, o que resultou no facto de cerca de 122 feridos terem tido um membro amputado, incluindo 20 crianças.
Nos protestos não foi morto nenhum soldado israelita.
A comisssão recomendou que a Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, transmita os dossiês sobre presumíveis criminosos aos mecanismos de justiça nacionais e internacionais, incluindo o Tribunal Penal Internacional, e pediu sanções internacionais contra essas pessoas.
A Faixa de Gaza é um pequeno enclave costeiro palestino onde vivem 2 milhões de pessoas. Israel retirou as suas tropas e colonos em 2005, mas mantém um controlo total das suas fronteiras terrestres e marítimas. O direito internacional continua a considerar Israel como potência ocupante.
A Grande Marcha do Retorno exige o direito dos refugiados palestinos e seus descendentes a regressarem às terras, na Palestina histórica, das quais foram expulsos em 1948, na campanha de limpeza étnica realizada pelas forças sionistas aquando da criação de Israel, e também o fim do criminoso bloqueio por Israel (com a colaboração do Egipto) à Faixa de Gaza, que dura há 12 anos.