Contrariando liberdade de criticar Israel, parlamento alemão designa movimento BDS de boicote como anti-semita

O Bundestag aprovou na sexta-feira uma moção que condena o movimento BDS como sendo anti-semita, num passo ameaçador no sentido de criminalizar a crítica às políticas antipalestinas de Israel e de amordaçar a liberdade de expressão.

O movimento internacional BDS, que condena explicitamente o anti-semitismo, apela ao boicote, ao desinvestimento e às sanções como forma de pressão para que Israel ponha fim à ocupação da terra palestina, conceda direitos iguais aos cidadãos palestinos de Israel e reconheça o direito de retorno dos refugiados palestinos.

A maioria dos deputados do Bundestag votou a favor de uma moção não vinculativa que afirma: «Os padrões e métodos de argumentação usados pelo movimento BDS são anti-semitas.» A moção foi apresentada pela CDU de Angela Merkel e pelo SPD, seu parceiro de coligação, bem como pelos Verdes e o FPD. O partido de extrema-direita AfD, conhecido pelas suas posições xenófobas e até anti-semitas, votou contra porque queria ir mais longe e proibir mesmo o BDS.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, apressou-se a saudar no Twitter a decisão do Bundestag: «Espero que esta decisão conduza a medidas concretas e peço a outros países que adoptem legislação semelhante.»

Reagindo à moção, o movimento BDS classificou-a como «anti-palestina, mccarthista e  inconstitucional», acrescentando: «O establishment alemão está a consolidar a sua cumplicidade com os crimes de Israel de ocupação militar, limpeza étnica, cerco e apartheid, ao mesmo tempo que tenta desesperadamente protegê-lo da responsabilidade perante o direito internacional.»

Dias antes da votação, mais de 60 académicos judeus e israelitas criticaram a proposta numa carta aberta, afirmando que ela faz parte de uma tendência alarmante de «rotular os defensores dos direitos humanos dos palestinos como anti-semitas». A confusão entre o BDS e o anti-semitismo, prossegue a carta, é apoiada pelo «governo mais à direita da história de Israel» e faz parte de uma estratégia para deslegitimar qualquer tentativa de solidariedade internacional com a causa palestina.

O falso pretexto do combate ao anti-semitismo é crescentemente brandido, a torto e a direito, para tentar calar a voz dos que se opõe às criminosas políticas de Israel e são solidários com a causa palestina. Ainda recentemente se observou novo exemplo disso na absurda acusação de anti-semitismo lançada contra o cartunista português António, a propósito da publicação pelo New York Times de um cartoon de sua autoria.

Num comunicado publicado em Dezembro de 2018, o MPPM afirmava já que «Anti-sionismo não é anti-semitismo» e alertava para «a aprovação de um documento [pela União Europeia] que caminha no sentido de equiparar críticas ao sionismo e a Israel com anti-semitismo». 

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