Concentração em Lisboa marca lançamento da campanha «Todos pela Palestina»
Muitas centenas de pessoas marcaram presença na concentração convocada para a Praça Luís de camões, em Lisboa, ao fim da tarde de terça-feira, 16 de Setembro, para marcar o arranque da campanha de solidariedade «Todos pela Palestina! Fim ao Genocídio! Fim à Ocupação!» promovida pela CGTP-IN, pelo CPPC, pelo MPPM e pelo Projecto Ruído, e que vai decorrer nos meses de Setembro, Outubro e Novembro, culminando na grande manifestação nacional, em Lisboa e no Porto, no dia 29 de Novembro – o Dia Internacional de Solidariedade com o Povo Palestino.
Com apresentação de Mariana Metelo do Projecto Ruído – Associação Juvenil, intervieram Isabel Camarinha, pelo CPPC, Carlos Almeida, pelo MPPM e Tiago Oliveira, pela CGTP-IN. Anteriormente, Julieta Almeida, do colectivo Parentes for Peace, tinha lido um poema de sua autoria sobre as crianças de Gaza.
A campanha já na segunda-feira, 15, tinha registado uma iniciativa na Nazaré, promovida pelo Movimento Nazaré pela Palestina. Na terça-feira, 16, realizou-se no Porto um acto público acompanhado de exposição «Gaza: Mar de memórias e luto», formato que se repetirá em Ermesinde, no Largo da Estação, no dia 25 às 16h30, e em Espinho, na Rua 19, no dia 28 às 11 horas.
No dia 21, às 10 horas, na Praça da Liberdade, em Viana do Castelo, haverá a confecção colectiva de um Tapete de Sal pela Paz.
No próximo dia 1 de Outubro na Voz do Operário, em Lisboa, a partir das 17 horas haverá uma iniciativa com música, comida e dança, «Voz pela Palestina».
Texto da intervenção de Carlos Almeida pelo MPPM
«Vi mulheres mortas nas suas casas com as saias até à cintura e as pernas abertas; dezenas de jovens baleados depois de terem sido alinhados contra a parede de um beco; crianças com a garganta cortada, uma mulher grávida com o estômago aberto, os olhos ainda arregalados, o rosto escurecido gritando silenciosamente de horror; inúmeros bebés e crianças pequenas que foram esfaqueadas ou dilaceradas e jogadas em pilhas de lixo.»
No dia 19 de Setembro de 1982, era assim que Janet Lee Stevens, jornalista norte-americana, descrevia o cenário de horror nas ruas que percorria no campo de refugiados de Sabra, no lado ocidental da cidade de Beirute, capital do Líbano. Nos três dias anteriores, entre os 16 e 18 de Setembro, milícias falangistas sob a protecção e orientação do exército de Israel levaram a cabo, ali e no campo de refugiados vizinho de Chatila, uma carnificina que a Assembleia Geral das Nações Unidas não teve dúvidas em classificar como “genocídio”, numa resolução nº 37/123D aprovada no dia 16 de Dezembro de 1982, sem votos contra e com 22 abstenções, entre as quais a de Portugal. Era primeiro-ministro de Israel Menachem Begin, o carrasco de Deir Yassin.
O tempo passou, Ariel Sharon, o mandante do massacre de Sabra e Chatila, foi ministro de Yitzhak Shamir, Shimon Peres e Benjamin Netanyahu, até ele próprio terminar como primeiro-ministro. Hoje é uma figura respeitada no universo sionista e os propagandistas de Israel gostam de designá-lo como um homem de centro. De acordo com esta mesma lógica macabra que ordena a política de Israel e que transforma os radicais de hoje nos moderados de amanhã, virá o dia em que tentarão convencer-nos que Netanyahu, Yoav Gallant ou Israel Katz são também eles pessoas razoáveis. A mesma lógica, aliás, que aponta o seguidismo de Trump para absolver o sionismo de Biden e Blinken. Mas desenganem-se.
Hoje, aos 711 dias de genocídio em Gaza – hoje mesmo confirmado através de um relatório da Comissão Internacional Independente de Inquérito das Nações Unidas – no meio da maior vaga de limpeza étnica que o povo palestino na Margem Ocidental conhece desde 1967, senão mesmo desde a Nakba, aqui estamos, 43 anos decorridos de Sabra e Chatila, sempre e uma vez mais, para afirmar a nossa solidariedade com a causa do povo palestino e a sua heróica resistência e para proclamar, alto e bom som que, não esquecemos, nunca esqueceremos, que enquanto tivermos forças, mesmo que a voz nos doa, aqui estaremos sempre para acusar os mandantes, os responsáveis, os executores, os cúmplices, mas também os cobardes e os oportunistas, e para exigir o julgamento internacional e a responsabilização política de todas e todos os que por acção ou omissão contribuem para a prática dos crimes monstruosos e hediondos praticados diariamente sobre o povo palestino. E, mais ainda, temos nós, todas e todos os que estes tempos de chumbo, a responsabilidade de transmitir às gerações que nos sucederem a memória deste crime e os nomes dos seus culpados.
Estamos aqui para exigir do governo português que cumpra a Constituição e que abandone de vez a falsa equidistância que é o refúgio dos cínicos, que reconheça o estado da Palestina com Jerusalém Leste como capital, imediatamente e sem condições, indissociável do reconhecimento do direito ao retorno dos refugiados, porque o direito à autodeterminação é um direito humano e dos povos, é um direito consagrado na Carta das Nações Unidas, inalienável e irrenunciável. Para reclamar uma acção firme, consequente e determinada que coloque Portugal, o Portugal de Abril, na posição que lhe compete, do lado do direito internacional e da realização dos direitos nacionais do povo palestino:
- na denúncia resoluta dos crimes praticados por Israel, crimes de guerra, crimes contra a humanidade, incluindo o crime de genocídio
- na reclamação do cessar-fogo, imediato, incondicional e na retirada do exército de Israel de Gaza e de todos os territórios palestinos que ocupa.
- na exigência e no contributo efectivo para que toda a ajuda humanitária entre em Gaza, de forma ilimitada e sem restrições, sob a coordenação das Nações Unidas
- na reclamação para que todos os detidos, nas prisões de Israel e em Gaza, sejam imediatamente libertados
- no congelamento de toda a cooperação de Portugal com o estado de Israel e as suas instituições, mormente no plano militar
- na intervenção firme e determinada para que a União Europeia suspenda o acordo de cooperação e congele todas as relações que mantém com Israel
- no apoio ao movimento de solidariedade com o povo palestino, incluindo a protecção diplomática e consular que é devida às cidadãs e cidadãos portugueses a bordo da Global Sumud Flotilha.
Aqui estamos para saudar todas e todos os que de norte a sul do país se mobilizam na solidariedade com o povo palestino, todas e todos os que ostentam com orgulho o keffiyeh e que levantam bem alto a bandeira palestina, e para apelar a que redobrem os esforços, que multipliquem as acções e as iniciativas e que se juntem a esta grande campanha de solidariedade que organizamos, o MPPM em conjunto com o CPPC, a CGTP-Intersindical Nacional e a Associação Projecto Ruído e que culminará na grande manifestação nacional a realizar em Lisboa e no Porto, no dia 29 de Novembro, dia internacional de solidariedade com o povo palestino.
Aqui continuaremos, afirmando com Victor Jara, assassinado faz hoje exactamente 52 anos que, assim como o Vietname, também o povo palestino tem direito a viver em paz e em liberdade na sua terra, e que a sua heróica resistência, junto com a nossa solidariedade, a solidariedade dos povos de todo o mundo, serão o canto universal que travará a barbárie e fará triunfar um dia esse justo e legítimo anseio, esse nobre ideal.