Centenas de beduínos protestam contra demolição de casas no Negev / Naqab pelo Estado de Israel

Centenas de beduínos manifestaram-se ontem, 27 de Julho, em Be’er Sheva, diante dos escritórios da Agência de Desenvolvimento Beduína, reclamando o seu encerramento, informa o jornal israelita Haaretz.
Os manifestantes exigiam o fim da política de sistemática demolição de edifícios nas comunidades beduínas do Negev/Naqab, no Sul de Israel, que classificaram de «crime contra cidadãos», e o reconhecimento das comunidades beduínas não autorizadas.
As relações entre a Agência e os residentes beduínos têm-se tornado cada vez mais tensas a propósito de questões como a reflorestação.
O Estado israelita começou a reflorestação a norte da localidade beduína de Tel Sheva, nos arredores de Be'er Sheva, que os beduínos dizem ser propriedade sua. O Estado estará a plantar florestas em vários locais do Negev/Naqab em terras que as comunidades beduínas «ilegais» reclamam como suas.
A política de demolições de casas de beduínos acentuou-se nos últimos anos. Segundo dados do Ministério da Segurança Pública de Israel, por ano são demolidas cerca de 1000 estruturas «ilegais».
A comunidade beduína não reconhecida de al-Araqib, onde vivem cerca de 110 pessoas, já foi destruída mais de 100 vezes.
Em Janeiro passado, na localidade beduína de Umm al-Hiran, durante uma operação para a demolição das 150 casas da aldeia, a polícia israelita matou a tiro um residente, Yakub Abu al-Kiyan, professor de matemática.
Umm al-Hiran é uma das 35 aldeias beduínas consideradas «não reconhecidas» pelo Estado de Israel; mais de metade dos cerca de 160.000 beduínos do Negev/Naqab residem em aldeias não reconhecidas. A classificação das suas aldeias como «não reconhecidas» impede os beduínos — apesar de serem cidadãos de Israel — de desenvolverem ou expandirem as suas comunidades. As autoridades israelitas recusam-se a ligá-las às redes nacionais de água e electricidade e excluem as comunidades do acesso a serviços de saúde e educativos.
Israel permitiu que essas famílias se mudassem para a área de Umm al-Hiran na década de 1950, depois de as ter afastado das suas terras de origem durante a Nakba (limpeza étnica dos palestinos que precedeu e acompanhou a proclamação de Israel, em 1948), com o pretexto de que Israel precisava delas para um kibutz exclusivamente judaico. Mais de 60 anos depois, exactamente a mesma coisa está a acontecer novamente: Umm al-Hiran está a ser destruída para que uma comunidade exclusivamente judaica, com o nome de Hiran, possa ser construída sobre as casas destas famílias. Famílias que estão pela segunda vez a ser vítimas de limpeza étnica pelo Estado de que são cidadãos.
«Os palestinos de Umm al-Hiran têm passaportes e cidadania israelitas, mas a política israelita de limpeza étnica, colonização, desalojamento forçado e apartheid afecta-os na mesma», declarou na altura Maya al-Orzza, da ONG palestina BADIL. «Essas políticas não acontecem só na Margem Ocidental e na Faixa de Gaza, mas também dentro de Israel contra os palestinos», que constituem cerca de 20% dos cidadãos de Israel.
 
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