Cartunista António rejeita acusação de anti-semitismo que levou à retirada de cartoon pelo «New York Times»
António, o conhecido e multipremiado cartunista português, rejeita as acusações de anti-semitismo que levaram à retirada de um seu cartoon da edição internacional do New York Times.
Após a publicação do cartoon no jornal nova-iorquino, organizações e personalidades sionistas lançaram uma campanha com a acusação de anti-semitismo. Em vez de defender a liberdade de opinião e de crítica do artista, o New York Times escolheu ceder à chantagem, retirou o cartoon e pediu publicamente desculpa.
Em declarações ao jornal Expresso, onde o cartoon foi originalmente publicado, António refuta a acusação, afirmando: «É uma crítica à política de Israel, que tem uma conduta criminosa na Palestina, ao arrepio da ONU, e não aos judeus.»
«A leitura que fiz», prossegue António, que publica semanalmente um cartoon no Expresso desde há décadas, «é a de que a política de Benjamin Netanyahu, quer pela aproximação de eleições, quer por estar protegido por Donald Trump, que mudou a embaixada para Jerusalém reconhecendo a cidade como capital, e que permitiu primeiro a anexação dos Montes Golã e depois da Cisjordânia e mais anexações na Faixa de Gaza, o que significa um enterro do Acordo de Oslo, representa um aumento da violência verbal, física e política. É uma política cega que ignora os interesses dos palestinianos. E Donald Trump é um cego que vai atrás. A estrela de David [símbolo judaico] é um auxiliar de identificação de uma figura [Netanyahu] que não é muito conhecida em Portugal.»
Todos os amigos da causa palestina e todos os defensores da liberdade de expressão não podem, nesta ocasião, deixar de expressar a António a sua admiração e solidariedade.
Em nota da sua direcção, o New York Times diz que «a imagem era ofensiva e foi um erro de apreciação publicá-la». Uma porta-voz do jornal declarou que a publicação da imagem se deveu à escolha de um editor que trabalhava «sem supervisão adequada» devido a um «processo deficiente».
Já a direcção do Expresso sublinha a evidência, a saber, que «o cartoon de António é um espaço de opinião onde, neste caso, o autor reflete a sua visão da política externa dos Estados Unidos» e que «o mesmo não inclui, nem propaga, qualquer mensagem antissemita».
A acusação de anti-semitismo é sistematicamente utilizada contra os críticos de Israel, confundindo deliberadamente a crítica à criminosa política antipalestina e belicista desse Estado com um ataque aos seguidores da religião judaica.
Assiste-se mesmo à tentativa — já concretizada em vários países — de criminalizar a crítica ao sionismo e à política de Israel invocando o pretexto falso do anti-semitismo.
Recorde-se a este propósito que o MPPM publicou em Dezembro de 2018 um comunicado intitulado precisamente «Anti-sionismo não é anti-semitismo! Não à tentativa de amordaçar a crítica da política de Israel!» Aí o MPPM «manifesta profunda preocupação pela notícia de que a União Europeia está a promover … a aprovação de um documento que caminha no sentido de equiparar críticas ao sionismo e a Israel com anti-semitismo».
A denúncia dos crimes de Israel, afirma-se mais adiante no comunicado, «nada tem a que ver com anti-semitismo», correspondendo antes «a um imperativo ético decorrente dos princípios fundadores da Carta das Nações Unidas e da Declaração Universal dos Direitos do Homem e que impõe uma firme posição de defesa de todos quantos são vítimas de discriminação e perseguição baseadas na sua origem nacional ou religiosa, como é claramente o caso do povo palestino».
O MPPM exige que o Governo português «se oponha frontalmente à aprovação de toda e qualquer medida censória que possa servir de pretexto para a perseguição e criminalização da irrenunciável denúncia dos crimes de Israel ou da solidariedade com a justa luta do povo palestino».