Carta à Direcção da Companhia de Teatro de Almada
O Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM) lamenta o texto da Folha Informativa com a assinatura da Companhia de Teatro de Almada e distribuída aos espectadores do Festival de Teatro de Almada na noite de 12 de Julho de 2017.
O respeito que temos pelo Festival, pela Companhia de Teatro de Almada e pelo seu trabalho, levou-nos a esperar pelo fim da 34a edição do Festival, antes de expressar o nosso desapontamento por esse texto. Um texto que falta à verdade dos factos e, assim, semeia a confusão.
Em momento algum o MPPM, a única organização portuguesa não governamental de solidariedade com o povo palestino acreditada pelas Nações Unidas, defendeu «boicotar um artista pela sua nacionalidade», como afirma enganadoramente o documento distribuído.
O comunicado do MPPM é incontornavelmente claro ao afirmar que o que está em causa é uma questão política: a associação do Estado de Israel ao Festival de Teatro de Almada, através da presença do logotipo da Embaixada de Israel em Portugal no programa, website e outros materiais de divulgação do Festival.
Não é necessário explicar a quem faz da palavra um meio de comunicação privilegiado, a importância de respeitar as palavras proferidas e o seu significado preciso. Não é sério caricaturar as posições de outros para melhor os procurar atingir. Como afirma o nosso comunicado de 3 de Julho: «o que está em causa com este facto é a colaboração, mesmo que involuntária, numa operação que — independentemente das intenções dos organizadores do referido Festival — objectivamente contribui para 'normalizar' e legitimar um governo e uma política de Estado baseados na limpeza étnica da população palestina, na ocupação ilegal e universalmente condenada de territórios palestinos, na expulsão de populações de cidades e territórios por motivos racistas e numa política de Estado que, de forma sistemática, visa a destruição da existência nacional e da identidade cultural do povo palestino. O Estado que se associa ao Festival de Teatro de Almada é um Estado que sistematicamente viola, desde há décadas, as resoluções das Nações Unidas, sendo um dos principais fautores de guerra no Médio Oriente, responsável por permanentes e bárbaros crimes contra o povo palestino e contra todos os povos da região — como ficou patente no massacre de Gaza em 2014.»
É com tristeza que constatamos que, em momento algum do comunicado emitido em nome da CTA, existe uma demarcação dos crimes de Israel, onde se inclui o esmagamento da identidade cultural do povo palestino e a repressão dos seus artistas e criadores. Nem se manifesta uma palavra de solidariedade com o tão martirizado povo palestino ou com a sua causa, a mesma a que Nelson Mandela chamou «a maior questão moral do nosso tempo».
Reiteramos o apelo com que terminámos o nosso comunicado, e que se mantém de inteira actualidade: «O MPPM exorta os organizadores do Festival de Teatro de Almada a porem fim à sua colaboração com entidades estatais e governamentais de Israel — nomeadamente com a Embaixada de Israel em Portugal – enquanto aquele país se mantiver fora da lei, à margem do direito e das convenções internacionais. Essa é a única forma de honrar o património humanitário, solidário e democrático do Festival de Teatro de Almada — iniciativa que tem sabido granjear no concelho, no país e no plano internacional um prestígio que orgulha todos os portugueses — e de não trair o povo mártir da Palestina».
Lisboa, 25 de Julho de 2017
A Direcção Nacional do MPPM