«Breve adeus a Nelson Mandela», por Maria do Céu Guerra

Como não acreditar que a vida pode mudar, a caminho da justiça e da paz, quando vemos a mão de Mandela, com as suas linhas claras e bem traçadas e o seu sorriso de quem chorou e lutou e venceu, a acenar-nos da Liberdade, naquele dia de 1990 em que saiu da prisão depois de 28 anos de martírio?
Como não acreditar, quando temos notícia de que Mandela, em 1997, visitou Xanana na prisão da Indonésia e lhe fez sentir, no seu abraço enorme, que tudo é possível, assim nós queiramos, e que, 5 anos depois, aquela meia ilha entalada entre inimigos, devastada e em chamas, era um país livre e independente e se chamava Timor-Lorosai?
Como não acreditar que a Paz é possivel quando, em 8 de Maio, celebramos o fim da 2ª Guerra Mundial e, com ele, o fim de um regime que vitimou em holocausto judeus, ciganos, comunistas e homossexuais?
Como não acreditar que a vida pode mudar em direcção à Paz quando nos lembramos que, em 1975, terminou a guerra do Vietnam, depois de ter feito mais de um milhão de mortos, durante 16 anos? E em 1974 vimos o fim da Guerra Colonial Portuguesa, em 1974, que vitimou brancos e negros, portugueses e africanos, deixando os países ocupados a braços com o subdesenvolvimento, mas independentes e quase livres?
Como não acreditar que o exemplo deste homem-luz, deste homem-tigre – porque é chefe, deste homem-leão – porque é rei, que soube fazer a guerra e a paz, não vai deixar a sua marca e o seu exemplo nesta nossa terra tão injusta e tão alheia aos valores da sua lição? Vamos fazer por isso. Como as crianças a quem ele dava, todos os Natais, um brinquedo e um caderno, vamos escrever a sua lição e aprendê-la e ensiná-la de cor.
Porque Madiba de seu nome de clã – que, segundo o rito africano, o será para sempre – nascido da nação Themba, Presidente do Congresso Nacional Africano (ANC), primeiro Presidente negro do seu país africano, Nelson de nome cristão – que nunca repudiou – tem muito a ensinar-nos, não é, Barak Obama?
No dia da morte de Mandela, o Presidente dos Estados Unidos da América, comovido, disse ao mundo: "Farei tudo o que puder para seguir o seu exemplo". “Yes, you can, Senhor Obama!” Disse também que Mandela era o último libertador do nosso tempo. Como Presidente de todos os americanos, dos quais muitos lutaram pelo fim do seu também cruel apartheid, e que continuam a lutar pela igualdade de oportunidades entre brancos e negros, impõe-se-nos recordar-lhe que ele é homem com mais poder do mundo, e que pode guardar, no fundo do seu cofre de segredos, um caderninho como o dos meninos negros de Qunu e pode lá escrever, para se lembrar dela, esta frase do seu inspirador: “Nós concordamos com a Organização das Nações Unidas quando esta declara que disputas internacionais devem ser solucionadas por vias pacíficas. A postura beligerante adoptada pelo governo de Israel é inaceitável para nós. Se temos de nos referir a qualquer uma das partes como Estado terrorista, devemos fazê-lo em relação ao governo Israelita. Porque eles são os que estão massacrando árabes inocentes e indefesos nos territórios ocupados e não consideramos isso aceitável.”
Descansa em Paz Nelson Mandela, no teu pequeno jardim de Qunu, ao lado dos teus velhos, e não deixes de inspirar o Mundo porque ele precisa da tua grandeza.
Maria do Céu Guerra
Presidente da Direcção Nacional do MPPM
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