Bordados palestinos inscritos no Património Imaterial da Humanidade

Durante a sua reunião anual realizada em Paris, o Comité Intergovernamental da UNESCO para a Salvaguarda do Património Cultural Intangível aceitou a inscrição de «A arte de bordar na Palestina, práticas, aptidões, conhecimentos e rituais» na Lista Representativa do Património Cultural Intangível.

A arte dos bordados tradicionais é generalizada na Palestina. Originalmente feita e usada nas zonas rurais, a prática é agora comum em toda a Palestina e entre os membros da diáspora.

Na Palestina, a roupa da aldeia feminina consiste geralmente num vestido comprido, calças, casaco, touca e um véu. Cada peça de vestuário é bordada com uma variedade de símbolos, incluindo pássaros, árvores e flores. O bordado é cosido com fio de seda em lã, linho ou algodão, e a escolha de cores e desenhos indica a identidade regional da mulher e o seu estatuto matrimonial e económico.

O bordado é uma prática social e intergeracional em torno da qual as mulheres se reúnem e colaboram para complementar o rendimento da sua família. A prática é transmitida de mãe para filha e através de cursos de formação.

O Primeiro-Ministro palestino Mohammad Shtayyeh disse que a inclusão da arte do bordado na Palestina na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade «é um passo importante e oportuno porque «ajuda a proteger a identidade, património e narrativa da Palestina, face às tentativas da ocupação de "roubar o que não possuem”».

O Ministro da Cultura, Atef Abu Seif, disse que esta decisão «é um reconhecimento da propriedade exclusiva pelo povo palestino do seu bordado e de tudo o que tem a ver com ele, e é uma afirmação de que a potência ocupante, Israel, não tem o direito de roubar o património do povo palestino».

«O “thobe”, o traje tradicional palestino, é um marco e uma identidade patrimonial que exprime a presença do ser humano palestino no seu espaço e no seu tempo, bem como o seu rejuvenescimento e harmonia. Cada “ponto” palestino tem uma narrativa na história do “thobe” que remonta a antigas mitologias religiosas que precederam as três religiões monoteístas».

Esta protecção do património palestino assume especial relevância face à recente polémica em que as concorrentes ao concurso Miss Universo 2021, que teve lugar em Israel, foram fortemente criticadas por se apropriarem da cultura palestina para promover o turismo de Israel.

Usando a hashtag «Visit Israel», candidatas a Miss Universo publicaram fotografias e vídeos em que preparam comida palestina, envergando os tradicionais «thobes», e em que cantam canções do folclore palestino, numa despudorada apropriação da cultura palestina.

Caligrafia árabe também inscrita

O Comité da UNESCO também inscreveu a «Caligrafia árabe, conhecimentos, aptidões e práticas» proposta por Arábia Saudita, Argélia, Barém, Egipto, Iraque, Jordânia, Kuwait, Líbano, Mauritânia, Marrocos, Omã, Palestina, Sudão, Tunísia, Emirados Árabes Unidos e Iémen.

A caligrafia árabe é a prática artística de escrita do árabe de uma forma fluida para transmitir harmonia, graça e beleza. A sua fluidez oferece infinitas possibilidades, mesmo dentro de uma única palavra, uma vez que as letras podem ser alongadas e transformadas para criar diferentes motivos. A caligrafia árabe está difundida em países árabes e não árabes e é praticada por homens e mulheres de todas as idades. Originalmente destinada a tornar a escrita clara e legível, tornou-se gradualmente uma arte árabe islâmica para obras tradicionais e modernas. As competências são transmitidas informalmente ou através de escolas ou aprendizagens formais.

Portugal com duas entradas

Portugal teve duas propostas admitidas nesta reunião da UNESCO.

«Falcoaria, um património humano vivo» foi proposta por Emirados Árabes Unidos, Áustria, Bélgica, Croácia, República Checa, França, Alemanha, Hungria, Irlanda, Itália, Cazaquistão, República da Coreia, Quirguizistão, Mongólia, Marrocos, Países Baixos, Paquistão, Polónia, Portugal, Catar, Arábia Saudita, Eslováquia, Espanha e República Árabe da Síria.

A falcoaria é a arte e prática tradicional de treinar e voar falcões e outras aves de rapina. Originalmente um meio de obtenção de alimentos, a falcoaria adquiriu outros valores e foi integrada nas comunidades como uma prática recreativa e uma forma de ligação com a natureza. Hoje em dia, é praticada por pessoas de todas as idades em mais de oitenta países. A falcoaria moderna centra-se na salvaguarda de falcões, pedreiras e habitats, bem como da própria prática. É transmitida através de tutoria, aprendizagem no seio das famílias e instrução formal em clubes e escolas.

«As Festas do Povo de Campo Maior», propostas por Portugal, são um evento popular durante o qual as ruas de Campo Maior são decoradas com milhões de flores de papel colorido. As comissões de rua da comunidade decidem a data e os temas das cores, e os vizinhos trabalham nas decorações durante meses. Há uma sensação de competição amigável entre as ruas para ver qual delas terá o melhor desenho. As decorações são assim mantidas em segredo até à véspera das festividades, quando a cidade é transformada durante a noite. A prática reforça a criatividade e a pertença à comunidade, e é transmitida no seio das famílias e das escolas.

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