Ben Gvir: «Cuspir nos cristãos é um antigo costume judaico»

Os colonos judeus extremistas, que têm aproveitado o feriado do Sukkot para profanar locais e símbolos religiosos muçulmanos e cristãos, têm o respaldo do ultra-direitista Ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, que disse numa entrevista à Rádio do Exército que cuspir em cristãos «não é crime».

Ben Gvir já tinha defendido o acto de cuspir nos cristãos como «um antigo costume judaico». A afirmação foi repetida na terça-feira, no X/Twitter, pelo líder dos colonos extremistas, Elisha Yered, suspeito de envolvimento na morte de um adolescente palestino em Agosto.

«Talvez sob a influência da cultura ocidental tenhamos esquecido um pouco o que é o cristianismo, mas penso que os milhões de judeus que sofreram no exílio as Cruzadas, a tortura da Inquisição [espanhola], os libelos de sangue e os pogroms em massa — nunca esquecerão», justificou Yered.

Youssef Daher, coordenador do Conselho Mundial das Igrejas em Jerusalém, acusou as autoridades israelitas de encorajarem as agressões contra os cristãos. Numa entrevista à agência Anadolu, Daher disse que a negligência da polícia e as declarações dos ministros israelitas estavam a contribuir para o crescimento do fenómeno.

O assédio de israelitas contra cristãos, incluindo cuspidelas, não é novo. No entanto, aumentou durante o novo governo, que tomou posse no final do ano passado e tem sido considerado como o mais à direita da história do país.

Os ataques — cometidos na sua maioria por ultranacionalistas ou colonos, incluindo soldados — vão desde a invasão de igrejas e cuspidelas nos fiéis até à destruição de símbolos cristãos e à vandalização de sepulturas, entre outros actos.

De acordo com a Al Araby TV, os últimos incidentes visaram o clero cristão na Cidade Velha, onde milhares de israelitas estão a participar em marchas que assinalam a semana do feriado de Sukkot.

Vários turistas foram maltratados por colonos judeus que lhes cuspiram enquanto caminhavam ao longo da Via Dolorosa durante a procissão da Via Sacra. As imagens de vídeo mostraram a presença das forças de ocupação israelitas durante o incidente, que nada fizeram para parar ou impedir a acção racista dos colonos.

O Papa Francisco terá ficado «furioso» com os incidentes, segundo Wadie Abu Nassar, conselheiro e antigo porta-voz da Assembleia dos Ordinários Católicos da Terra Santa.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros palestino afirmou num comunicado que os repetidos incidentes de cuspir nos cristãos reflectem a «cultura de ódio e racismo» da ocupação israelita.

O presidente da comissão presidencial palestina para os Assuntos da Igreja, Ramzi Khoury, afirmou que as declarações de Ben-Gvir, «não são apenas palavras passageiras, mas sim uma ameaça real à vida dos cristãos... que terá consequências perigosas e inesperadas, uma vez que as práticas racistas e extremistas se tornaram abertamente praticadas contra todos os que não são judeus».

Entretanto o Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu garantiu que «Israel está totalmente empenhado em salvaguardar o direito sagrado de culto e de peregrinação aos locais sagrados de todas as religiões».

Muçulmanos expulsos das mesquitas para dar lugar aos judeus

Centenas de colonos israelitas ilegais forçaram, na quinta-feira, a entrada no complexo da Mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém Oriental ocupada, no quinto dia do feriado judaico de Sukkot, de acordo com o Departamento Islâmico Waqf, informa a Agência Anadolu.

Em comunicado, o departamento afirmou que pelo menos 240 colonos entraram no local sob a protecção da polícia israelita. Pelo menos 4551 colonos invadiram o complexo desde domingo, de acordo com a mesma fonte.

Na segunda-feira, a polícia israelita invadiu a mesquita Qibli/Al-Aqsa, a principal área de oração no recinto sagrado muçulmano em Jerusalém, conhecido como Al-Haram Al-Sharif ou Nobre Santuário, sob o pretexto de fazer uma busca, enquanto centenas de extremistas judeus invadiam o local muçulmano e a polícia agredia e prendia e expulsava fiéis palestinos.

Os fanáticos judeus intensificaram a sua presença na Mesquita de Al-Aqsa, quando assinalam o seu feriado de Sukkot, respondendo aos apelos dos seus líderes para estarem presentes no local com o objectivo de alterar o status quo que diz que a área é uma zona de culto exclusivamente muçulmana.

O Sukkot é um feriado de uma semana, que começou a 29 de Setembro e termina a 6 de Outubro, terminando uma temporada de feriados judaicos que começou com a observação do Rosh Hashanah (Ano Novo) a 15 de Setembro.

A Mesquita de Al-Aqsa é o terceiro local mais sagrado do mundo para os muçulmanos. Os judeus chamam à área o Monte do Templo, alegando que foi o local de dois templos judaicos em tempos antigos.

Em Hebron, na passada segunda-feira, as autoridades de ocupação israelitas fecharam a Mesquita Ibrahimi aos fiéis muçulmanos sob o pretexto dos feriados judaicos, abrindo-a apenas para as orações judaicas, de acordo com o Director-Geral das Doações de Hebron, Nidal Jaabari.

Ghassan Al-Rajabi, director da Mesquita Ibrahimi, disse à Anadolu que todas as partes da mesquita seriam abertas aos colonos israelitas, acrescentando que Israel fecha a mesquita aos muçulmanos durante 10 dias por ano, por ocasião de diferentes feriados judaicos.

Reverenciado tanto por muçulmanos como por judeus, o complexo da Mesquita Ibrahimi de Hebron é considerado o local onde estão sepultados os profetas Abraão, Isaac e Jacob.

O Comité do Património Mundial da UNESCO decidiu, em Julho de 2017, incluir a Mesquita Ibrahimi e a cidade velha de Hebron na sua lista do Património Mundial.

Em Hebron vivem perto de 160 000 palestinos e cerca de 500 colonos judeus ilegais. Estes últimos vivem numa série de enclaves exclusivamente judaicos, fortemente vigiados por tropas israelitas.

ONU apela a acção imediata contra profanação de locais e símbolos religiosos

Volker Turk, o Alto-Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos apelou, na quinta-feira, a uma acção imediata contra a crescente profanação de locais e símbolos religiosos em todo o mundo, durante a reunião do Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas em Genebra.

Segundo Turk, as lacunas nas políticas e nos quadros jurídicos nacionais permitem que o ódio e a discriminação passem despercebidos face às consequências reais.

«Os Estados-Membros podem e devem fazer mais», insistiu, uma vez que a queima do Alcorão e outros incidentes de ódio religioso em todo o mundo demonstram que a luta contra as causas profundas e os factores de ódio exige «muito mais».

«O desmantelamento activo de estereótipos nocivos, campanhas de informação pública que celebrem a diversidade, sistemas educativos inclusivos e não discriminatórios, plataformas de redes sociais com políticas de moderação de conteúdos que respeitem os direitos humanos, meios de comunicação social fortes, independentes e diversificados, e soluções para aqueles que são vítimas de discriminação são necessários para combater o ódio religioso e os seus efeitos», afirmou.


Na imagem: Ben-Gvir fez visita provocatória ao recinto da Mesquita Al-Aqsa, local reservado a muçulmanos, em 3 de Janeiro de 2023


Fontes: Middle East Monitor, Middle East Eye, WAFA


 

Print Friendly, PDF & Email
Share