Banksy exibe presépio «Cicatriz de Belém» tendo por fundo Muro de separação na Palestina ocupada

Um presépio diante do Muro, perfurado por um obus, é o último trabalho de Banksy, revelado poucos antes do Natal na simbólica cidade de Belém, na Cisjordânia ocupada.

A obra intitula-se A Cicatriz de Belém, um jogo de palavras entre Star (estrela) e Scar (cicatriz), e está em exposição no Walled-Off Hotel, que foi inaugurado por Banksy em 2017 na cidade palestina. Os quartos do hotel têm vista para o Muro de oito metros de altura construído pelo Estado sionista.

Blocos em miniatura do Muro, com grafitos apelando à paz e ao amor, servem de pano de fundo ao presépio. O impacto de um obus no Muro lembra uma estrela por cima das figuras de Maria, José e Jesus, rodeados por uma vaca e um burro.

Com este trabalho, Banksy contribui «à sua maneira» para as festividades de Natal em Belém, a cidade onde Jesus nasceu, segundo a tradição cristã.

Para Wissam Salsaa, o gerente do Walled-Off Hotel, A Cicatriz de Belém simboliza uma «cicatriz da vergonha». «O muro simboliza a vergonha para todos aqueles que apoiam o que acontece na nossa terra, todos aqueles que apoiam a ocupação ilegal» da Cisjordânia por Israel desde 1967.

Israel começou a construir a chamada «Barreira de Separação» na Cisjordânia ocupada em Junho de 2002. Alegou tratar-se de uma medida temporária em resposta à Segunda Intifada, mas quase duas décadas depois o Muro permanece uma penosa realidade. Na realidade, 85% do Muro de 700 km, em vez de seguir a chamada «linha verde», que marca o limite entre Israel e o território palestino ocupado, foi construído em território da Cisjordânia. A área compreendida entre o Muro e Israel representa mais de 9% da área da Cisjordânia, na sua maior parte terras agrícolas palestinas a que os agricultores só têm acesso através de portões e mediante uma autorização.

A construção do Muro foi considerada ilegal por um parecer consultivo emitido em 9 de Julho de 2004 pelo Tribunal Internacional de Justiça.

Desde 2005, Banksy realizou uma série de grafitos nos blocos de cimento do Muro, com imagens que reflectem o seu protesto. No ano passado, reafirmou o seu empenho e comercializou um cartaz representando uma torre de vigia transformada em carrossel, com uma mensagem satírica: «Visite a Palestina histórica. O exército israelita gostou tanto que nunca se foi embora.»

«É uma óptima maneira», afirma Wissam Salsaa, «de evocar a história de Belém, a história do Natal, de uma maneira diferente, para fazer as pessoas pensarem mais» em como os palestinos vivem hoje em Belém.

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