Bandos de colonos israelitas aterrorizam a Cisjordânia

Depois do pogrom de quarta-feira contra Turmus’ayya, pelo terceiro dia consecutivo, os colonos israelitas, seguros da sua impunidade e contando com a protecção do exército, intensificaram os seus ataques a localidades palestinas, na Cisjordânia ocupada.

Este é um resumo das ocorrências dos últimos dias relatadas pela agência noticiosa Wafa.

Na madrugada desta sexta-feira, um palestino foi ferido a tiro e dezenas de outros sufocaram quando colonos israelitas tentaram invadir Deir Dibwan, a leste da cidade ocupada de Ramala. Os jovens locais enfrentaram-nos, obrigando-os a recuar, mas alvejados pelas tropas israelitas que atingiram um deles com um tiro no peito e provocaram a asfixia de dezenas de outros.

Também no distrito de Ramala, algumas dezenas de colonos, sob protecção do exército, reuniram-se na entrada ocidental da aldeia de Beitin, perto da cidade de al-Bireh, e atiraram pedras aos veículos palestinos que passavam nas proximidades, causando-lhes danos.

Outro grupo de colonos atirou pedras contra veículos conduzidos por palestinos, na zona de al-Fahs, a sul da cidade de Hebron, partindo-lhes os pára-brisas.

Ontem, quinta-feira, bandos de colonos israelitas realizaram uma série de ataques contra palestinos e as suas propriedades na província de Ramala.

Na cidade de Sinjil, dezenas de colonos apoiados pelo exército atacaram casas com pedras no bairro de Muzaira, provocando confrontos com moradores locais que resistiram ao ataque e forçaram os colonos a sair da cidade.

Também na aldeia de Um Safa, a norte de Ramala, os residentes palestinos repeliram o assalto de colonos israelitas, apoiados pelo exército.

Veículos palestinos que passavam pelo cruzamento de Ein Ayyub, perto da aldeia de Ras Karkar, foram apedrejados por colonos israelitas.

Cinco civis palestinos receberam tratamento médico depois de terem sido espancados e atingidos por gás lacrimogéneo num novo ataque de colonos israelitas, protegidos pela polícia, ao bairro de Silwan, em Jerusalém.

Ainda na quinta-feira, um grupo de colonos israelitas, protegidos pelo exército e provenientes do colonato ilegal israelita de Maon, atacou pastores e civis palestinos na aldeia de Khirbet Tuba, na região de Masafer Yatta, a sul de Hebron, causando ferimentos em alguns deles. O ataque israelita provocou igualmente danos moderados numa casa da aldeia.

À entrada da aldeia de Yasuf, na província de Salfit, grupos de colonos israelitas bloquearam a estrada principal que conduz à aldeia e atiraram pedras contra veículos palestinos que passavam na estrada, causando danos em alguns deles.

Continuando sua onda de terror e violência contra o povo palestino, colonos israelitas armados lançaram, na noite de quinta-feira, um novo ataque à cidade de Turmus’ayya, que tinha sido alvo do pogrom de quarta-feira, mas foram repelidos pelos habitantes, que estavam de alerta.

A aldeia de Jalud, ao sul da cidade de Nablus, foi assaltada por dezenas de colonos israelitas que atacaram várias casas e apedrejaram os aldeões que tentavam defender as suas propriedades. Os soldados, que protegiam os colonos, dispararam contra os aldeões, ferindo um deles na cabeça com balas de aço revestidas de borracha e dois outros com estilhaços de balas. Três outros aldeões sofreram ferimentos devidos ao apedrejamento pelos colonos e dezenas de outros sofreram asfixia causada pelo gás lacrimogéneo. Os altifalantes das mesquitas locais apelaram aos habitantes das aldeias vizinhas para que ajudassem a enfrentar o ataque dos vândalos israelitas.

Ainda na quinta-feira, colonos israelitas atacaram vários veículos palestinos que circulavam na estrada que liga Al-Jaba'a à aldeia vizinha de Nahalin, a sudoeste de Belém.

Na tarde de quarta-feira, colonos israelitas oriundos do colonato de Beitar Illit incendiaram uma grande área de terras agrícolas na vila de Husan, a oeste da cidade de Belém, destruindo dezenas de oliveiras. Como habitualmente, os soldados protegeram os colonos dispararando contra os jovens que tentavam proteger as propriedades, mas sem que houvesse registo de vítimas.

Em Burqa, a noroeste da cidade de Nablus, os colonos tentaram atacar uma casa à entrada da localidade, poucas horas depois de terem sabotado três barracões agrícolas, arruinado o seu conteúdo e destruído árvores.

A violência dos colonos contra os palestinos e os seus bens, que inclui o incêndio de propriedades e mesquitas, o lançamento de pedras, o arranque de culturas e oliveiras, ataques a casas vulneráveis, entre outros, é rotineira na Cisjordânia e raramente é investigada pelas autoridades israelitas.

Há mais de 700 000 colonos israelitas a viver em colonatos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental.

Condenação internacional

Na sequência do pogrom a Turmus’ayya, em que foram incendiadas casas e veículos palestinos, um habitante foi morto a tiro e outros ficaram feridos, vários países e instituições internacionais condenaram a violência dos colonos israelitas e apelaram à protecção dos palestinos.

Falando em representação do Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, Farhan Haq, porta-voz adjunto disse: «O Secretário-Geral condena todos os actos de violência contra civis. Israel, enquanto potência ocupante, deve garantir que a população civil seja protegida contra todos os actos de violência e que os autores sejam responsabilizados. Israel tem de cumprir as suas obrigações ao abrigo do direito humanitário internacional, incluindo o uso proporcional da força e a adopção de todas as precauções possíveis para poupar civis na condução de operações militares.» E concluiu: «Em última análise, só o regresso a um processo político significativo e o fim da ocupação poderão pôr termo a este ciclo devastador de violência e de perda de vidas sem sentido.»

A União Europeia disse em comunicado: «Condenamos o actual surto de violência dos colonos em toda a Cisjordânia, que resulta numa inaceitável violência indiscriminada contra civis palestinos e na destruição de propriedade palestina. Recordamos que Israel tem a obrigação de assegurar a protecção dos civis palestinos no território ocupado.»

O Gabinete de Assuntos Palestinos dos Estados Unidos da América disse, num tweet: «Estamos chocados com os contínuos ataques de colonos em Turmus’ayya [onde vivem muitos palestino-americanos] e noutras aldeias, que provocaram a morte de civis, ferimentos e danos materiais. Apelamos às autoridades israelitas para que ponham imediatamente termo à violência, protejam os civis norte-americanos e palestinos e processem os responsáveis.»

«Alarmados com os acontecimentos na Cisjordânia, incluindo Turmus’ayya, apelamos a Israel para que tome medidas genuínas para proteger a população palestina dos ataques terroristas dos colonos, em conformidade com as obrigações decorrentes do Direito Internacional Humanitário. Todos os perpetradores devem ser responsabilizados e todos os civis devem ser protegidos», afirmou o Gabinete do Representante da Irlanda em Ramala num tweet.

O Ministério das Relações Exteriores da Arábia Saudita declarou em comunicado: «O Ministério manifesta a rejeição categórica do Reino aos actos de intimidação de civis palestinos e renova o seu firme apoio a todos os esforços internacionais destinados a encontrar uma solução justa e global para a questão palestina, em conformidade com as resoluções da legitimidade internacional e com a Iniciativa de Paz Árabe.»
 

Print Friendly, PDF & Email
Share