Após ataque do primeiro-ministro de Israel, B'tselem promete continuar esforços para acabar com a ocupação

O grupo israelita de direitos humanos B'Tselem respondeu ao primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, depois de este ter acusado o grupo de «espalhar mentiras» sobre Israel na declaração que o seu director executivo, Hagai El-Ad, pronunciou perante o Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) na sexta-feira, 14 de Outubro, sobre a expansão dos ilegais colonatos israelitas. «Israel tem sistematicamente legalizado violações dos direitos humanos nos territórios ocupados através da criação de colonatos permanentes, demolições punitivas de casas, um mecanismo de construção e de planeamento tendencioso, a apropriação de terra palestina», afirmou El-Ad, acrescentando que 2016 foi o pior ano da história no que diz respeito à demolição de casas palestinas.
Na sua reacção, Netanyahu afirmou que «a ONU e os chamados grupos de paz» que falaram no CSNU estavam «a negar aos judeus os nossos direitos, a espalhar mentiras e a distorcer a história». Os cerca de 196 colonatos israelitas nos territórios ocupados são considerados ilegais pelo direito internacional, mas Netanyahu disse que a posição da ONU contra os colonatos «só faz sentido se se ignorar milhares de anos de história judaica» e se «se aceitar a exigência palestina anti-semita de um Estado livre de judeus como algo essencial para a paz».
Argumentando novamente que «mais de um milhão e meio de árabes vivem em Israel como cidadãos de pleno direito», então os judeus residentes nos colonatos ilegais da Margem Ocidental não podem ser considerados um obstáculo à paz. Ayman Odeh, deputado ao Knesset (parlamento israelita) pela Lista Conjunta (coligação de partidos palestinos e da esquerda não sionista em Israel), já anteriormente tinha comentado que se trata de «uma equiparação absurda entre uma minoria nativa que viveu nesta terra durante gerações — um povo à cuja custa o Estado de Israel foi fundado — e os colonos, que se mudaram para um território ocupado contra o direito internacional e ignorando e violando os direitos do povo da Margem Ocidental e de Gaza».
Netanyahu insistiu que «o verdadeiro obstáculo à paz não são os colonatos, mas sim a persistente recusa palestina de reconhecer um Estado judeu em quaisquer fronteiras», fingindo ignorar que a Organização de Libertação da Palestina (OLP) reconheceu o Estado de Israel em 1993.
Num artigo de opinião publicado pelo jornal israelita Haaretz no domingo, 16 de Outubro, Hagai El-Ad defendeu a sua apresentação no Conselho de Segurança e a sua crítica à ocupação israelita do território palestino. «Não há nenhuma possibilidade de a sociedade israelita, por sua própria vontade e sem qualquer ajuda, acabar com o pesadelo. No final, tenho a certeza, israelitas e palestinos vão acabar com a ocupação, mas não o faremos sem a ajuda do mundo. … A nossa decisão de controlar as vidas deles, por mais que isso nos convenha, é uma expressão de violência, não de democracia. Israel não tem uma opção legítima para continuar desta forma. E o mundo não tem a opção de continuar a tratar-nos como tem feito até agora — só conversa e nenhuma acção.»
As críticas de Netayahu à ONU surgem também no contexto da adopção de um projecto de resolução pela UNESCO, no dia 13 de Outubro, que critica as actividades de Israel (designado por «potência ocupante») nos lugares santos da Margem Ocidental ocupada e em Jerusalém, e nomeadamente em torno do complexo da mesquita de Al-Aqsa. O projecto de resolução refere-se-lhe apenas pelo seu nome islâmico (Al-Aqsa ou Haram al-Sharif), sem mencionar o seu nome judaico (Monte do Templo). Contudo, não rejeita os laços judaicos com o sítio e também refere a «importância da Cidade Velha de Jerusalém e dos seus muros para as três religiões monoteístas».
A Autoridade Palestina saudou o projecto de resolução, afirmando que ele reflecte o «continuado empenho da maioria dos Estados membros de enfrentar a impunidade e de defender os princípios sobre os quais foi fundada a UNESCO».
Por seu lado, Israel reagiu violentamente ao projecto de resolução, decidindo congelar a cooperação com a UNESCO. Numa carta à agência da ONU, o ministro da Educação de Israel, Naftali Bennett (do partido de extrema-direita Lar Judaico), classifica a decisão de «vergonhosa» e vai ao ponto de dizer que ela «ajuda o terrorismo islâmico».
 
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