Apelo pelo poeta palestino Ashraf Fayadh
O MPPM, que dinamizou o Apelo «Salvemos a vida do poeta palestino Ashraf Fayadh condenado à morte na Arábia Saudita!», regozija-se com a notícia de que a sentença de morte foi revogada.
Salvar no imediato a vida de Ashraf Fayadh constitui uma assinalável vitória do movimento de solidariedade que se desencadeou no mundo inteiro, incluindo em Portugal.
Não iremos baixar os braços. O movimento de solidariedade provou a sua eficácia. Está agora mais forte e, portanto, em melhores condições para travar a execução da pena brutal agora aplicada - oito anos de prisão e 16 sessões de 50 vergastadas, perfazendo um total de 800 - e prosseguir a luta até ao objectivo final, a libertação de Ashraf Fayadh.
Prosseguiremos a nossa acção pela liberdade na Arábia Saudita, um país onde são negados os direitos das mulheres, proibidos os partidos políticos e reprimido o direito de expressão e de associação, um país que constitui um factor de tensão e instabilidade em todo o Médio Oriente. Não iremos baixar os braços.
Salvemos a vida do poeta palestino Ashraf Fayadh condenado à morte na Arábia Saudita!
Ashraf Fayadh (n. 1980) é um artista e poeta de origem palestina (Khan Yunis, Faixa de Gaza) que nasceu e vive na Arábia Saudita. Em Novembro de 2015 foi condenado à morte por apostasia (abandono do Islão) devido ao conteúdo do seu livro de poemas Instruction Within, de 2008.
Fayadh foi detido pela polícia religiosa em 2013, em Abha, no sudoeste da Arábia Saudita, em seguida libertado sob caução, e depois novamente preso e julgado no princípio de 2014. Foi condenado a quatro anos de prisão e a 800 chicotadas. Recorreu da sentença, mas o seu recurso foi recusado; de novo julgado por um tribunal de primeira instância, os juízes condenaram-no à morte, já que a apostasia é punível com a morte na monarquia teocrática saudita.
O próprio Fayadh continua a afirmar que é muçulmano praticante e nega todas as acusações contra si. Os seus apoiantes estão convictos de que ele foi visado por ser um refugiado palestino, embora tenha nascido na Arábia Saudita.
Ashraf Fayadh não pôde dispor da assistência de um advogado porque o seu documento de identificação foi apreendido quando foi preso em Janeiro de 2014.
Trata-se de mais uma brutal e inaceitável violação dos direitos humanos na Arábia Saudita, um dos países mais ferozmente repressivos do mundo, onde o número de execuções por decapitação foi de 157 em 2015 e já atingiu as 47 em 2016. A Arábia Saudita nega os direitos das mulheres, proíbe os partidos políticos, reprime o direito de expressão e de associação. A Arábia Saudita, uma das maiores potências militares da região, intervém militarmente em outros países (mais recentemente no Barém e no Iémen), representando um factor de tensão e instabilidade em todo o Médio Oriente.
É inaceitável que os países ocidentais, incluindo a União Europeia, em nome da luta contra o obscurantismo, a repressão das liberdades e o terror do chamado Estado Islâmico, acolham a Arábia Saudita como parceiro, quando precisamente o obscurantismo, a falta de liberdades e o terror campeiam nesse país, cujo regime financia, desde há décadas, a exportação para todo o mundo do wahabismo, a base ideológica de inúmeras organizações islamistas, como o chamado Daesh, que aterrorizam populações um pouco por todo o mundo.
A data para a execução de Ashraf Fayadh não é ainda conhecida, mas ela pode ter lugar a qualquer momento. Por isso nós apelamos às portuguesas e aos portugueses que prezam a tolerância, a liberdade de pensamento, de expressão e de criação, a que protestem contra a sentença de morte que sobre ele pende e exijam a sua revogação e a sua imediata libertação. Por isso exigimos o fim da repressão e o respeito das liberdades na Arábia Saudita, e esperamos das autoridades portuguesas que, no espírito da Constituição da República, se empenhem para este fim.
Lisboa, 3 de Fevereiro de 2016
Subscritores
Maria do Céu Guerra, presidente do MPPM – Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente
André Albuquerque, actor, presidente do CENA - Sindicato dos Músicos, dos Profissionais do Espectáculo e do Audiovisual
Frederico Gama de Carvalho, investigador científico
Ilda Figueiredo, presidente do Conselho Português para a Paz e Cooperação
José Jorge Letria, escritor, presidente da Sociedade Portuguesa de Autores
José Manuel Mendes, escritor
Marília Villaverde Cabral, dirigente da União dos Resistentes Antifascistas Portugueses
Pilar del Rio, presidenta da Fundação José Saramago
Teresa Cadete, escritora, professora universitária, presidente do PEN Clube Português e membro da direcção do PEN Internacional
Vasco Lourenço, presidente da Associação 25 de Abril
Aida Tavares, agente cultural
Alfredo Maia, jornalista
Alice Vieira, escritora
Ana Biscaia, ilustradora
Ana Cristina Vasconcelos Pereira de Macedo, professora do ensino superior
Ana Margarida Ramos, professora universitária e ensaísta literária
Ana Saldanha, escritora
Anabela Mota Ribeiro, jornalista
Anthero Monteiro, poeta
Augusto Baptista, jornalista
Bernardette Capelo Pereira, ensaísta literária e poeta
Carlos Fiolhais, Professor Universitário
Fausto Neves, músico e professor
Francisco Vaz da Silva, editor e livreiro
Igor Gandra, encenador
João Manuel Ribeiro, escritor
João Pedro Mésseder, escritor e professor
Joaquim Almeida da Silva, metalúrgico
José Viale-Moutinho, escritor
Luísa Tito Morais, jornalista
Manuel Freire, cantor e compositor
Manuel Villaverde, historiador
Maria de Medeiros, actriz, realizadora e música
Maria Dulce Abreu, educadora
Maria Inês Ramalhete Gomes, tradutora
Miguel Ramalhete Gomes, investigador literário e professor
Mónica Santos, jornalista
Nuno Gomes Oliveira, biólogo
Rita Taborda Duarte Martins de Carvalho, professora
Rui Namorado Rosa, investigador / professor universitário
Teresa Rocha, professora aposentada
Zeferino Coelho, editor
Zillah Murgel Branco, socióloga
Quarta, 3 Fevereiro, 2016 - 18:22