63 anos de Nakba - 63 anos de limpeza étnica na Palestina

Foi com sentida emoção que as muitas pessoas que se reuniram na Casa do Alentejo, em Lisboa, no passado dia 16 de Maio, a convite do MPPM, para assinalar o 63º aniversário da Nakba - a Catástrofe - reagiram às intervenções dos diferentes oradores.
Falou em primeiro lugar Maria do Céu Guerra, Presidente do MPPM, que descreveu o longo percurso do processo de ocupação da terra palestina pelos sionistas e consequente expulsão dos seus habitantes.
Fixando o seu início em 1897, na sequência do 1º Congresso Sionista realizado em Basileia, que estabeleceu como objectivo criar um lar para o povo judeu na Palestina, objectivo esse confirmado cinco anos mais tarde com a criação do Fundo Nacional Judeu para aquisição da terra da Palestina que deve ser entregue «desocupada dos seus habitantes árabes». Desde então, o povo palestino foi perseguido, expulso das suas terras, espoliado dos seus haveres, dizimado.
Mas, como adverte Maria do Céu Guerra a terminar a sua intervenção, «Uma longa luta ainda nos espera, mas o apartheid também caiu. É altura de darmos as mãos por um Estado Palestino, é altura de pegarmos nas nossas chaves e ir abrir as portas das nossas casas fechadas - a casa da tolerância, a casa do diálogo, a casa da confiança. E nós, comunidade internacional, é altura de sermos mais firmes do que nunca e não deixarmos que nos mintam mais.»
Em seguida, Carlos Almeida, da Direcção Nacional do MPPM, denunciou a forma como foi planeada e executada a limpeza étnica da Palestina: «O sonho de uma Palestina etnicamente pura habitava o coração do projecto sionista desde a sua nascença. Desde meados dos anos trinta, pelo menos, o que era um sonho, foi, entretanto, elaborado, de forma contínua e gradual, numa estratégia planeada e executada meticulosamente.»
Recusando reduzir a Nakba aos acontecimentos de Maio de 1948, afirma Carlos Almeida: «A Nakba é, em primeiro lugar, uma batalha silenciosa, mas incessante, para resgatar o passado, pelo direito à memória que é a carne e o sangue de todos os povos de todas as culturas do mundo. Evocar a Nakba é recordar como todos aqueles crimes foram executados no meio do quase total silêncio e passividade por parte da comunidade internacional. (...) Sessenta e três anos depois, evocar a Nakba é uma exigência de futuro, porque qualquer solução para a chamada questão palestina, para ser digna, justa e duradoura, tem que edificar-se sobre o reconhecimento das suas feridas, e jamais sobre o seu apagamento.»
Avança, contudo, uma mensagem de esperança: «Sessenta e três anos cumpridos sobre a Nakba, entretanto, há razões fundadas para a esperança. As grandes e corajosas manifestações que decorreram ontem, nos territórios ocupados, em Israel e, em particular, nas fronteiras síria, libanesa e egípcia, são um sinal disso mesmo. (...) Mas, para além da importância deste contexto regional, a força, coragem e determinação que envolveram as manifestações deste fim-de-semana são indissociáveis da notícia do recente acordo de entendimento entre as diferentes forças do movimento de resistência nacional palestino.»
Seguiu-se a exibição da curta-metragem A Carta de Sara, realizada por Muraz Jan Kot, em que Sara, uma garota palestina de 12 anos, relata a sua vida diária, a sua casa, o campo de refugiados onde vive, as vielas estreitas onde brinca, os seus brinquedos e jogos improvisados, ao mesmo tempo que dá a sua visão sobre o conflito, a sua admiração pelo irmão que, com os outros rapazes, defende a comunidade respondendo com pedras às balas dos soldados israelitas.
O jornalista José Manuel Rosendo comentou o filme, acrescentando-lhe a vivência das suas muitas viagens à Palestina. Descreveu a vida dos palestinos sob a ocupação, a humilhação sofrida nos check-points. Recordou que o cerco a Gaza resultou da recusa, pela comunidade internacional, em aceitar o resultado de eleições que observadores internacionais tinham considerado livres, democráticas e justas.
Considerou um passo positivo o recente acordo de reconciliação entre diversas forças palestinas e, a propósito da actual posição de Israel, de que não aceita o Hamas como parceiro nas negociações para a Paz, lembrou que idêntico argumento tinha sido usado, nomeadamente, contra Yasser Arafat e Abu Maza, para concluir que Israel não tem o direito de decidir quem deve chefiar o governo da Palestina, apenas pode  exigir que o seu interlocutor negoceie de forma aberta, transparente e honesta e respeite o que for acordado.
Encerrou a sessão o Dr. Mufeed Shami, Embaixador da Palestina em Portugal. Recordou, também, os massacres que constituíram a Nakba: «Ontem comemorámos 63 anos de Nakba, a catástrofe da Palestina e dos Palestinianos, que começou com o Congresso Sionista em 1897 em Basileia, Suíça, e culminou no dia 15 de Maio de 1948. Nesse dia, o Estado de Israel foi estabelecido pela força das armas sobre as ruínas da nossa pátria e os crimes e massacres cometidos tiveram como consequência o exílio do nosso povo dentro da própria Palestina, os campos de refugiados e a diáspora. Será que o nosso povo e o mundo podem esquecer os massacres de Deira Yassin, de Qibia, de Nahalin e outros massacres cometidos entre 1947 e 1948, para além dos massacres posteriores? (...) Durante estes 63 anos de Nakba milhares de pessoas foram mortas, feridas, feitas prisioneiras e exiladas porque se recusaram a viver sob a ocupação e escolheram a liberdade e a independência.»
E enunciou a estratégia da Autoridade Palestina: «Não obstante esta enorme catástrofe, a opção pela paz foi a nossa única escolha estratégica para consagrar uma paz justa, integral e duradoura no Médio Oriente em conformidade com as resoluções das Nações Unidas nºs 242, 338, 425, 194, 1397, 1515 e outros acordos internacionais, com especial referência ao road map adoptado pelo Quarteto constituído pelas Nações Unidas, União Europeia, Estados Unidos e Federação Russa.(...) Os Palestinianos não podem aceitar outra solução que não seja a retirada completa de Israel dos seus territórios até às fronteiras de 4 de Junho de 1967 e o desmantelamento de todos os colonatos por serem considerados ilegais pelo direito internacional. Nunca haverá paz e segurança sob ocupação e colonização. (...) Pese embora a sistemática rejeição israelita de todas as iniciativas de paz que possam conduzir a uma paz integral e duradoura no Médio Oriente, a liderança palestiniana chefiada pelo Presidente Mahmoud Abbas anunciou a nossa estratégia nacional para o fim da ocupação e independência.»
Print Friendly, PDF & Email
Share